terça-feira, 16 de setembro de 2014

MinC discute criação de museu da memória afrodescendente

O seminário Rumo ao Museu Nacional da Memória Afrodescendente, em curso na Fundação Cultural Palmares, em Brasília, discute o desafio de contar a trajetória do negro no país. Segundo os organizadores, essa história tem sido negada nos relatos oficiais. Por isso, é necessário reunir vestígios e conhecimentos, e construir um museu que seja capaz não apenas de relembrar, mas de atualizar o passado à luz dos desafios do presente.


O projeto do Museu Nacional da Memória Afrodescendente está a cargo do Ministério da Cultura, e ao participar do seminário, a ministra Marta Suplicy disse que a expectativa é que o espaço seja inaugurado em três ou quatro anos. Para tanto, um terreno de 65 mil metros quadrados na capital foi doado pelo governo do Distrito Federal. Instituições vinculadas ao ministério, como a Fundação Casa de Rui Barbosa, organizaram-se em grupo e discutem a proposta museológica. Além disso, a ministra adiantou que está sendo preparado um edital para o desenho arquitetônico.

Para a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, a instalação é um “passo extremamente importante para que possamos contar a nossa história”. Ela acredita que o museu incentivará pesquisas sobre a temática. Nesse sentido, a secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Inclusão do Ministério da Educação, Macaé Evaristo, acredita que o museu poderá contribuir para a garantia do ensino da história e da cultura dos africanos e dos afrodescendentes, conforme determina a legislação.

Ao todo, existem 16 museus no Brasil que tratam especificamente da questão racial. Mesmo assim, a avaliação dos participantes do seminário, que segue até amanhã (28), é que falta um órgão que tenha capacidade de expressar a relevância da negritude, em nível nacional, para a constituição da história do país. Essa lacuna, eles esperam superar com a construção do museu nacional. “Não existe uma nação rica e desenvolvida sem a preservação de suas matrizes culturais”, afirmou o presidente Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra.
 Fonte: Agência Brasil - O Vermelho

 Ministério da Cultura discute criação de museu da memória afrodescendente Ministério da Cultura discute criação de museu da memória afrodescendente

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Notas do IPMS

Edições IPMS acaba de publicar mais dois livros já disponíveis em nosso site na sessão dedicada à literatura.
Porto Alegre Imaginada. Cidade, Cartas de Amor e Poesia é uma coletânea iconográfica que aborda a cidade a partir do imaginário de um apaixonado. Baseada em referências contidas em cartas de amor, documentos autênticos pertencentes a um arquivo pessoal, em mapas, em fotografias e em pinturas que têm por tema a cidade, a autora construiu imagens, recriando-as a partir dessas referências. O Diário de Francisco e outros Contos e Crônicas é uma coletânea literária que reúne textos já publicados ao longo de 2012 na Revista Vida Brasil. Agora reunidos, foram transformados em um livro virtual editado pelo IPMS - Instituto de Pesquisa em Memória Social.
Os livros estão disponíves em Literatura e aqui mesmo no blog.

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A pintura com estilo renascentista de Kinuko Y. Craft

Fonte: Catraca Livre
Kinuko Y. Craft é uma das artistas de fantasia mais respeitada e conhecida nos Estados Unidos hoje. Ela se considera uma contadora de histórias. Seus últimos trabalhos incluíram pinturas para o livro que aborda  muitos autores conhecidos, cartazes de ópera , livros de contos de fadas e capas para diversas revistas nacionais.
Durante a sua carreira tem sido caracterizada pela atenção meticulosa aos detalhes, um amor apaixonado pelas artes e um profundo conhecimento da história da arte. Seus livros de contos de fadas são distribuído atualmente nos EUA, outros países de língua Inglês, bem como a Europa, Grécia, China e Coréia.
Craft  é pós-graduada com um BFA em 1962, Faculdade de Belas Artes e Industrial (conhecido no Japão como Kanazawa Bidai). Ela nasceu no Japão e veio para os Estados Unidos no início dos anos sessenta, onde continuou seus estudos em design e ilustração na Escola do Instituto de Arte de Chicago por um ano e meio. Em seguida, trabalhou por vários anos nos estúdios de arte conhecidas em Chicago. No final da década o seu trabalho  teve alta demanda e começou sua longa e bem sucedida carreira como ilustradora freelancer.
Confira os trabalhos da artista na galeria abaixo: 

A fotografia revela o que os urbanistas latinos oculta

"Urbes Mutantes", em Nova York, mostra as transformações e os problemas das cidades por fotógrafos de rua, artistas e fotojornalistas
por Francisco Quinteiro PIres — publicado 31/08/2014 09:40, última modificação 31/08/2014 10:39
Alberto Korda
Alberto Korda
"O Quixote do poste de iluminação", de Alberto Korda
Quinze minutos após iniciar um passeio pela Urbes Mutantes: Latin American Photography 1944-2013, o curador Alexis Fabry parou diante de duas fotografias de Miguel Rio Branco. Ele queria que os visitantes prestassem atenção ao conteúdo chocante das imagens do brasileiro. Colocadas lado a lado e com o título Mad Dog, Maciel (1980), elas exibem dois seres sujos e deitados no chão. “Esse díptico”, escreve o crítico David Levi Strauss, “relaciona um homem morto ou dormindo num pavimento com um cachorro, ambos na mesma posição e condição, a formar uma equação abjeta”. De acordo com Fabry, a representação fotográfica que equipara um ser humano a um animal revela a rua como um espaço onde a miséria não se disfarça.
Urbes Mutantes, em cartaz até setembro no International Center of Photography (ICP) de Nova York, mostra as transformações e os problemas das cidades latino-americanas em cerca de 200 imagens tiradas por fotógrafos de rua, artistas e fotojornalistas. Para Fabry e María Wills, responsáveis pela montagem a partir da coleção particular de Leticia e Stanislas Poniatowski, “cada imagem tem uma ideo-
logia” e, quando adicionada ao conjunto, é capaz de exibir a diversidade urbana do continente americano. As imagens selecionadas mostrariam as diferenças entre oito países da América Latina, apesar do passado colonial comum e da desigualdade econômica onipresente.
Os espaços urbanos de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Venezuela foram, entre os anos 1940 e 2000, uma plataforma para protestos sociais contra governos autoritários, um palco para a cultura popular e a face pública da pobreza. As fotos preservam a memória fugidia desses lugares fadados à reconstrução inacabada ou à ruína cíclica, em contraste com “o moderno espírito público direcionado à criação de cidades como símbolos do progresso e do triunfo do capitalismo”, segundo Fabry e Wills.
O ensaísta uruguaio Ángel Rama (1926-1983) entendeu a urbanização latino-americana como um projeto de dominação justificado por ideologias que uma minoria de intelectuais formulou nos últimos cinco séculos. “Desde a remodelação de Tenochtitlán após a sua destruição por Hernán Cortés em 1521 até a inauguração em 1960 do sonho de urbe de Lucio Costa e Oscar Niemeyer, a cidade latino-americana tem sido um parto da inteligência”, escreveu Rama no livro La Ciudad Letrada (1984). “Ela esteve inscrita num ideal da cultura universal como a representante de uma ordem social e encontrou no novo continente o único lugar propício para se tornar realidade.”
Rama relata em La Ciudad Letrada que o plano oficial era substituir “as cidades orgânicas” da Península Ibérica medieval pelas “cidades organizadas” no Novo Mundo, onde a razão pautaria a distribuição do espaço e um estilo de vida. Uma paisagem urbana repetitiva e planificada demandaria de seus habitantes o cumprimento desse desejo de ordem. O projeto de colonização, sugere Rama, desrespeitou singularidades. A abstração, a racionalização e a sistematização defendidas pelas Coroas espanhola e portuguesa se oporiam à expressão criativa das culturas locais. Essa sociedade hierarquizada promoveu uma realidade à parte nas Américas. Desse esforço do Estado resultou a exclusão em termos de classe e de raça.
Fabry e Wills dedicaram The Forgotten Ones, uma das nove seções de Urbes Mutantes, aos excluídos das cidades latino-americanas. Fotógrafos como Héctor García (mexicano), Adriana Lestido (argentina), Sergio Larraín (chileno), Roberto Fontana (venezuelano) e Miguel Rio Branco representam o engajamento social iniciado por William Henry Fox Talbot (1800-1877), autor de retratos de trabalhadores e marginalizados. “A qualidade transparente do recurso fotográfico, desenvolvido no século XIX como uma ferramenta para a documentação objetiva, desafiou a hipótese de que a representação deveria estar vinculada a ideais clássicos de beleza materializados nas vidas das classes mais ricas”, dizem os curadores.
Os fotógrafos selecionados registraram os esquecidos. Essa atitude gerou discussões sobre a espetacularização da miséria, lembra Wills. “Na América Latina, vários colóquios abordaram essa questão e um dos pontos de vista mais fortes percebeu os fotógrafos que não eram ativistas ou participantes de movimentos sociais como exploradores dos oprimidos”, diz a curadora aCartaCapital.
Urbes Mutantes ignora os mais abastados. Os visitantes da exposição do ICP aprendem pouco sobre os hábitos e as fisionomias das elites latino-americanas. A mexicana Yvonne Venegas representa uma das exceções. Entre 2004 e 2010, Venegas acompanhou o dia a dia de María Elvira de Hank, filantropa e esposa do milionário Jorge Hank Rhon, para entender como os ricos aproveitam seus privilégios. “Por que não há mais imagens reveladoras das elites? Os fotógrafos dos anos 1960 e 1970, décadas às quais pertence a maioria das imagens, não estavam interessados em retratar os mais ricos. Por vezes, eles nutriam repulsa a essa possibilidade”, Wills explica. “As elites aparecem em Urbes Mutantes de maneira indireta quando Pedro Meyer (mexicano) fotografa as sobras de uma refeição feita por políticos num restaurante ou Pablo López Luz (mexicano) retrata as fachadas das casas dos bairros mais ricos. Incluímos uma visão mais representativa das raças e classes sociais nas Américas. Evitamos antagonizá-las.”
A primeira seção de Urbes Mutantes chama-se Living Walls (Paredes Vivas). “Aqui a câmera preserva momentos importantes da vida urbana, como protestos contra desmandos políticos, projetos urbanos inacabados e marcos arquitetônicos”, afirma Wills. Ao fotografar grafites, cartazes e placas, Fernell Franco (colombiano), Yolanda Andrade (mexicana), Sameer Makarius (argentino), María Cecilia Piazza (peruana) e outros transformaram esses escritos públicos em metáforas dos sentimentos dos moradores urbanos, como o cinismo, a frustração, a raiva e o humor. Rama associou a comunicação verbal do povo nas paredes citadinas a um desafio à autoridade das elites intelectuais como as únicas intérpretes da realidade.
Urban Geometries (Geometrias Urbanas) trata da organização espacial e estruturas físicas das cidades. Fabry e Wills escolheram trabalhos que exploraram luzes, sombras e reflexos para abordar de modo abstrato a expansão das metrópoles dos anos 1940 em diante. Segundo a curadoria, as imagens de Paolo Gasparini (foto ao lado) (venezuelano), Lázaro Blanco (mexicano), Armando Salas Portugal (mexicano) e Rosario López (colombiana) comprovam o ecletismo arquitetônico da América Latina, entre construções planejadas e desordenadas. Urban Geometries concentra o maior número de fotógrafos brasileiros: José Yalenti, German Lorca, Thomaz Farkas e Geraldo de Barros, todos pertencentes ao Foto Cine Clube Bandeirante.
“Na América Latina, a urbanização deu-se com muita rapidez, o que gerou as paisagens mais intrigantes. O Foto Cine Clube Bandeirante é um dos primeiros no continente a oferecer uma visão menos conservadora e mais autoral da fotografia”, diz Wills. Criado em 1939, o fotoclube paulistano percebeu a imagem como uma obra de expressão artística. “Urbes Mutantes não é uma exposição sobre fotógrafos de rua latino-americanos. Ela trata antes de tudo do impacto das diferentes culturas urbanas sobre o imaginário desses profissionais.” Novos ângulos e formas surgiram para capturar cidades cujas aparências mudavam, enquanto seus problemas essenciais se perpetuavam.