O conhecimento que segundo Morin (2000) deve ir das partes ao todo e do todo às partes, ainda luta para efetivar-se nas instituições viciadas no pensamento hegemônico de que são frutos, onde apenas as partes contam e o todo fica a cargo do “bom senso” do docente ou do discente. Por mais que seja citado nas fundamentações, a valorização do saber oriundo da experiência cotidiana – ou extra-institucional – fica reservada ao diálogo que estes sujeitos irão promover a partir das ementas.
A imposição do saber institucionalizado às comunidades constitui também parte deste desrespeito. Para Foucault
[…] o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam
deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles [os intelectuais]; e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra,
proíbe, invalida esse discurso e esse saber. Poder que não se encontra somente nas
instâncias superiores da censura, mas que penetra muito profundamente, muito
sutilmente em toda a trama da sociedade. Os próprios intelectuais fazem parte deste
sistema de poder, a idEia de que eles são agentes da “consciência” e do discurso
também faz parte desse sistema. O papel do intelectual não é mais o de se colocar
“um pouco na frente ou um pouco de lado” para dizer a muda verdade de todos; é
antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o
objeto e o instrumento: na ordem do saber, da “verdade”, da “consciência”, do
discurso.
(FOUCAULT, 2009, p.71)
Como forma de sobrevivência, ao descobrir que as massas não precisam mais dos intelectuais para refletir sobre suas práticas, percebo os currículos/sistema educacional afirmando a necessidade de sua entrada no lugar restrito para a construção do saber, enfatizando a necessidade do “povo” aprender seu idioma acadêmico para se fazer ouvir na globalidade mundial contemporânea, e encontram novas formas de subjugar a epistemologia produzida no cotidiano do território simbólico que não carece de valoração institucional, mas é mantida sob a égide da hegemonia ideológica do intelectualismo de consumo.
Até quando?
Até quando?
OBS: fragmento da obra ENTRE HIERARQUIAS, HIBRIDISMOS E TERRITÓRIALIDADES:
UMA PERSPECTIVA CURRICULAR PARA ARTES DA CENA NO ENSINO
SUPERIOR de Cecília Bastos da Costa Accioly
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas/UFBA
MORIN, Edgar.; LE MOIGNE, Jean-Louis. A Inteligência da Complexidade. 3. ed. São
Paulo: Peirópolis, 2000. 268 p.______. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2007. 104 p.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução e organização de Roberto Machado.
Rio de Janeiro: Graal. 2009.
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