quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fortaleza ganha museu de fotografia

Empresário Sílvio Frota reúne seu acervo de 2.000 fotos históricas em novo empreendimento

 
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S. Paulo
Fortaleza deve ser primeira cidade brasileira a abrigar um grande museu privado de fotografia até o fim de dezembro. O empresário cearense Sílvio Frota, ligado ao setor imobiliário, acaba de comprar o prédio onde funcionava o Instituto Brasil-Estados Unidos, no bairro de Aldeota, que ocupa uma área de 2.500 m², para abrigar sua coleção de fotografia. Seu histórico acervo tem mais de 2 mil imagens, assinadas por fotógrafos estrangeiros como Edward Steichen, Cartier-Bresson, Steve McCurry, Cindy Sherman e Elliot Erwitt, além de brasileiros, cobrindo várias gerações, de Chico Albuquerque a Cássio Vasconcellos, passando por Orlando Brito, José Medeiros e Otto Stupakoff.
Foto de garota afegã por Steve McCurry, pertencente ap acervo do Museu da Fotografia em FortalezaSteve McCurry/DV
A exemplo do mais antigo museu de fotografia do mundo, o George Eastman House International Museu of Photography and Film, aberto ao público em 1949, em Rochester, EUA, o Museu de Fotografia de Fortaleza, criado por iniciativa privada, será dedicado prioritariamente à educação, abrigando um auditório e biblioteca, além de oficina para workshops com profissionais da área, promovendo ainda debates e projeções de filmes e vídeos. Frota tem talvez a maior coleção relacionada à história recente do Brasil depois do Instituto Moreira Salles – em especial o período que vai da morte de Getúlio Vargas, passa pela construção de Brasília e chega ao crepúsculo do regime militar. Por meio desse acervo é possível acompanhar o drama pessoal de cada presidente do País, flagrado em sua intimidade.
Aula de história. A ideia de criar o museu, aliás, ocorreu a Frota ao atestar que poderia contar a história da ditadura militar brasileira recorrendo apenas a fotos de sua coleção. Fotojornalistas que acompanharam o período, como Orlando Brito e Juca Martins, estão representados por imagens fortes como a do fechamento do Congresso, em 1967, a passeata dos 100 mil realizada um ano depois e o encontro do general Figueiredo com outro ditador, Pinochet, em 1980, além de registros incomuns como o do general Geisel de calção, na praia.
O conjunto dessas fotos forma uma narrativa dramática dos anos de ditadura, mais ou menos como a coleção do Museu da Inocência, em Istambul, mescla as reminiscências do Nobel de literatura Orhan Pamuk com objetos pessoais e dramas sociais, sugeridos por seu romance homônimo sobre a obsessão amorosa de um homem. Em ambos os casos, são museus que "contam histórias". Foi com esse objetivo em mente que Frota organizou outra coleção, fotos de conflitos mundiais, começando com uma série do brasileiro André Liohn, que ganhou há dois anos a grande medalha Robert Capa do Overseas Press Club – pela cobertura da guerra civil na Líbia, que culminou com a morte do ditador Kadafi, em 2011.
Protestos. "A mais recente dessas séries registra as manifestações de protesto do ano passado, feitas por um jovem de 23 anos, Victor Dragonetti, mais conhecido como Drago, finalista do prêmio Esso em 2013", revela o colecionador, cujo acervo tem imagens icônicas do fotojornalismo feitas por profissionais como o baiano Evandro Teixeira e o piauiense José Medeiros, maior nome da extinta revista O Cruzeiro, que Glauber Rocha considerava o "inventor da luz brasileira". A coleção de Frota, aliás, tem vários fotógrafos do Norte e Nordeste brasileiro, o que justifica a intenção de instalar o museu em Salvador e no Recife, após a consolidação do projeto em Fortaleza.
Um desses nomes é o mítico cearense Chico Albuquerque (1917-2000), pioneiro da publicidade brasileira que começou sua carreira como fotógrafo de cena do filme It’s All True (1942), do cineasta norte-americano Orson Welles. Frota tem 22 fotos feitas por ele em Mucuripe, entre elas as dos jangadeiros filmados pelo diretor – que desistiu do filme quando um deles, Jacaré, morreu, em 1942. Albuquerque voltou a Mucuripe dez anos depois, registrando a vida e o cotidiano dos pescadores locais.
Ícone. Outro documentarista que se destaca no acervo de Frota é o francês Jean Manzon (1915-1990), que chegou ao Rio em 1940. Embora lembrado como realizador de filmes que promoviam os feitos do regime militar, Manson deixou na revista O Cruzeiro registros históricos sobre presidentes dos anos anteriores aos da ditadura (JK dormindo no avião, Vargas almoçando com a família). A coleção do empresário abriga uma centena de fotos de Manzon, cujo acervo tem desde imagens feitas por Marc Ferrez no século 19 a ensaios assinados por jovens fotógrafos como Júlio Bittencourt, Yuri Firmeza e Rodrigo Frota, filho do idealizador do museu, que foi assistente do norte-americano Steve McCurry.
Mc Curry, fotógrafo da National Geographic, é lembrado pela imagem da garota afegã de olhos verdes Sharbat Gula, da etnia pashtu, que perdeu os pais na invasão soviética do Afeganistão e foi fotografada em 1992, num campo de refugiados do Paquistão. Essa foi a primeira foto que Frota comprou. Ela integra um acervo com outras imagens icônicas: a de Marilyn Monroe por Elliot Erwitt e a da mãe migrante fotografada por Dorothea Lange (1895-1965) durante a Depressão americana, em 1936, uma das mais reproduzidas da história.
Outra característica que distingue a coleção Sílvio Frota, além das fotos históricas, é a de reunir portfólios de profissionais como Thomas Farkas, Leopoldo Plentz, Cristiano Mascaro, Christian Cravo e Bob Wolfenson. O objetivo, de traçar uma panorâmica da carreira desses fotógrafos, como convém ao novo museu, é também pedagógico.
Fonte: O Estadão

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Usos e abusos da memória: entrevista com Andreas Huyssen

Por Guilherme Freitas

 

Em 2007, a artista colombiana Doris Salcedo ocupou uma das salas da galeria londrina Tate Modern com uma instalação formada por uma fenda no piso com 167 metros de extensão. O título do trabalho, “Shibboleth”, era uma referência bíblica: numa passagem do Antigo Testamento, os integrantes de uma tribo de Israel reconhecem os forasteiros pelo sotaque com que pronunciam essa palavra. Diante do espanto de críticos e visitantes que se viam forçados a saltar a obra para entrar no museu, Salcedo afirmou que quis representar “fronteiras, a experiência dos imigrantes, da segregação e do ódio racial”.

Na terça-feira, o crítico alemão Andreas Huyssen encerrou com imagens dessa instalação a primeira das três conferências que realizou esta semana no Museu de Arte do Rio, na Praça Mauá, como parte de um curso promovido pelo MAR em parceria com o Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFRJ. Professor de literatura comparada na Universidade de Columbia (EUA) e autor de obras influentes sobre a intersecção entre cultura e memória, Huyssen citou o trabalho de Salcedo como exemplo de intervenção artística que consegue evocar abusos de direitos humanos históricos e atuais.

A relação entre memória, arte e direitos humanos é também tema do novo livro de Huyssen, “Culturas do passado-presente” (Ed. Contraponto, tradução de Vera Ribeiro), lançado essa semana. Em 10 ensaios, ele analisa obras do sul-africano William Kentridge, do argentino Guillermo Kuitka e da indiana Nalini Malani. Comenta ainda os impasses enfrentados por museus e memoriais dedicados a tragédias como o Holocausto e os atentados de 11 de Setembro, que repetem fórmulas como uso de água, pedra e listas com nomes das vítimas. Traça também a evolução do debate internacional sobre políticas da memória, desde a discussão sobre o passado nazista na Alemanha depois da Segunda Guerra até as grandes transformações mundiais dos anos 1980 e 90, com o fim das ditaduras na América Latina, do apartheid na África do Sul e do bloco comunista no Leste Europeu.

Em entrevista ao GLOBO durante sua passagem pelo Rio, Huyssen defendeu que os estudos sobre memória precisam se alinhar à luta por direitos humanos, para evitar que o olhar para o passado seja “autoindulgente e sem vitalidade política”. E criticou o que chama de “abusos da memória”, tanto em discursos nacionalistas que apelam a mitos históricos para justificar barbáries quanto nas ondas “retrô” na moda, na música e na arquitetura.
Em “Culturas do passado-presente”, você mostra como os estudos sobre memória influenciaram vários aspectos da esfera pública, como as artes, a política e o sistema judiciário. Quais foram as mudanças mais importantes nos discursos sobre memória nas últimas décadas?

Cresci na Alemanha, onde desde os anos 1960 havia uma preocupação com a política da memória, principalmente em relação aos crimes do Terceiro Reich e o Holocausto. Comecei a escrever sobre isso nos anos 1970. A partir dos anos 1980, transformações significativas no mundo fizeram com que o tema da memória ganhasse visibilidade em diversos contextos nacionais: a queda das ditaduras latino-americanas, o fim do apartheid na África do Sul, o colapso da União Soviética, entre outros casos. Comecei a me interessar pelas formas como o discurso sobre memória surgido nas discussões sobre o Holocausto na Europa, primeiro na Alemanha mas logo também em países como França e Polônia, migrava para esses outros contextos. A Argentina é um caso chave. Quando estive lá pela primeira vez, nos anos 1990, já havia um grande debate sobre memória e justiça. Estive no Chile na mesma época e isso não acontecia. No Brasil está se intensificando só agora. 

Como você compara o debate no Brasil hoje em torno da Comissão da Verdade com a situação em países como Argentina e Chile?

O debate brasileiro está em outro estágio em relação aos países vizinhos, mas isso não significa que não vá se desenvolver mais. No Chile, até que Pinochet tivesse a prisão decretada pelo juiz espanhol Baltazar Garzón, em 1998, não se falava tanto sobre os crimes de ditadura. E de repente o debate explodiu. Mas me chama atenção, por exemplo, a diferença entre o tratamento dado ao tema da anistia na Argentina e no Brasil. Lá houve várias idas e vindas desde os anos 1980, até a anistia ser revogada. Aqui isso nunca aconteceu desde 1979, quando a demanda popular era pela anistia aos opositores perseguidos, mas o regime aproveitou para se autoanistiar.

No livro você fala em uma “guinada transnacional” dos debates sobre memória. Como isso influencia a maneira como os países lidam com crimes e tragédias do passado?

Memória é um tema amplamente evocado hoje, seja no contexto da reparação às vítimas das ditaduras latino-americanas, do regime de terror de Pol Pot no Cambodja, do genocídio na Armênia ou dos massacres na época da definição das fronteiras entre Índia e Paquistão. Mas esses debates costumam operar em contextos regionais ou nacionais. Há uma guinada transnacional quando reconhecemos que esses discursos têm impacto uns sobre os outros. Por ser um caso mais antigo e portanto mais pesquisado, o Holocausto se tornou uma matriz para esse debate. Na Argentina, o primeiro relatório sobre crimes da ditadura, divulgado em 1983, foi batizado de “Nunca Mais”, um slogan que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Não se trata, é claro, de comparar ou igualar o Holocausto a fenômenos posteriores. Mas signos ligados a ele são usados em outros contextos para denunciar crimes de Estado. Outro exemplo de debate transnacional é a influência exercida pela criação da Comissão da Verdade e Reconciliação na África do Sul, em 1998. Foi a primeira do tipo e se tornou a matriz para iniciativas semelhantes no campo dos direitos humanos em todo o mundo.

Que contribuições os estudos sobre memória podem dar ao campo dos direitos humanos?

Uma abordagem que relacione os dois discursos me parece mais frutífera para ambos. Nos Estados Unidos e na Europa, há cada vez mais estudos sobre memória, muitos deles apenas autoindulgentes, sem vitalidade política. Um risco do discurso da memória é buscar legitimação para o presente olhando para o passado, mas sem pensar no futuro. Já o discurso dos direitos humanos olha também para o futuro, porque deseja transformar a legislação. Por outro lado, o típico discurso liberal sobre direitos humanos individuais muitas vezes não presta atenção na história nem nas culturas locais, fazendo uma mera transposição de valores ocidentais para contextos onde essas questões se estruturam de outras formas. Quando falamos de direitos culturais de minorias, seja na Ásia ou na Amazônia, o discurso da memória pode abrir caminho para a compreensão de particularidades históricas e sociais que o discurso de direitos humanos individuais relega a segundo plano. 

Você já escreveu sobre “abusos de memória”. O que essa expressão pode significar? 

Mesmo entre muitos pesquisadores da área, existe a noção ingênua de que a memória é sempre “boa”, porque seria um antídoto para o esquecimento, o silêncio e a repressão. Quando se fala da memória das vítimas de ditaduras, é claro que isso é verdade. Mas há casos mais complicados. Na época do esfacelamento da Iugoslávia, por exemplo, Slobodan Milosevic manipulou a memória das batalhas contra os muçulmanos no século XIV para justificar a limpeza étnica e assegurar sua base de poder. É um caso de memória a serviço do nacionalismo radical. A memória está sujeita a abusos políticos e também econômicos. Sempre digo que há uma espécie de “máquina da memória” operando na indústria cultural. Há toda uma série de “modas retrô” na música, no vestuário, na arquitetura etc. E hoje a internet faz com que a cultura do passado esteja disponível numa escala sem precedentes. A questão é: isso produz só memória ou também amnésia? O cineasta alemão Alexander Kluge já falou em um “ataque do presente contra o resto do tempo”. Quando tudo se torna presente, corremos o risco de deixar de lado o passado e o futuro.

Você falou sobre como a partir dos anos 1980 o debate sobre memória se espalhou por América Latina, África, Ásia. O livro analisa obras de artistas dessas regiões, como o sul-africano William Kentridge, o argentino Guillermo Kuitca, a colombiana Doris Salcedo e a indiana Nalini Malani. Eles lidam com o tema da memória de formas diferentes do que artistas de Europa ou Estados Unidos?

Não existe uma “arte global da memória”, todos esses artistas trabalham em relação com seus contextos nacionais. Mas chama atenção a forma como eles se apropriam dos modos modernistas de representação. Em seus trabalhos sobre a violência na Colômbia, Doris Salcedo faz referências ao Holocausto por meio de citações a Paul Celan (poeta judeu de língua alemã mandado para um campo de trabalhos forçados durante a Segunda Guerra). Kuitca não é explicitamente político, mas faz alusões às suas origens em uma família judaica de Odessa: volta e meia em suas obras aparece um carrinho de bebê descendo uma escadaria, referência à cena clássica de “O encouraçado Potemkin”, de Eisenstein, mas também a seus antepassados imigrantes. Nalini Malani trata da violência contra mulheres e muçulmanos na região do Punjab, que foi partilhada entre Índia e Paquistão, acionando uma constelação de referências ao Holocausto e à Segunda Guerra, inclusive da antiga Alemanha Oriental. Já Kentridge tem um relacionamento muito próximo com a vanguarda histórica: nos anos 1990, por exemplo, dirigiu uma peça teatral inspirada em Alfred Jarry chamada “Ubu e a Comissão da Verdade”, com críticas ao tratamento da memória no pós-apartheid sul-africano. Novas formas surgem das ruínas do modernismo europeu no mundo inteiro, o que serve para nos lembrar que o modernismo nunca foi um fenômeno apenas do Atlântico Norte, um fato evidente mas muitas vezes ignorado. 
Fonte: O Globo

Pontos de Memória buscam se consolidar como política pública

Leandro Melito e Noelle Oliveira - Portal EBC 5


Uma das iniciativas mais recentes relacionadas ao programa Cultura Viva, os Pontos de Memória estiveram presentes na Teia da Diversiade realizada em Natal (RN) por meio de um grupo de trabalho temático e rodas de conversa para troca de experiências. A principal reivindicação do grupo foi a institucionalização do programa como política pública.
Criado em 2009 por meio de uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), os programas Mais Cultura e Cultura Viva do Ministério da Cultura e a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), o programa Pontos de Memória desenvolveu inicialmente 12 pontos localizados em comunidas populares onde existiam iniciativas comunitárias que trabalhavam com memória social. Esses pontos foram estimulados a utilizar instrumentos de museologia social para preservar a história dessas comunidades. 
A metodologia implementada nessa fase inicial passou a ser divulgada para os novos pontos que se constituíram por meio do edital Prêmio Pontos de Memória lançado pelo Ibram em 2011. Hoje estão mapeados 200 pontos de memória em todo o país.

Wellington Pedro, integrante do ponto de memória Museu do Taquaril do Belo Horizonte (MG), uma das iniciativas pioneiras do programa, considera o  processo de institucionalização dos Pontos de Meméria está em construção. "Nós caminhamos para um processo que  o programa Pontos de Memória se torne uma política pública. A gente quer ter um diálogo direto com o Ibram, e vem construindo esse processo conjuntamente para que toda região, toda parte do Brasil também possa ter esse direito da memória  garantido",afirma.  
Cinthia Oliveira, coordenadora de Museologia Social e Educação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) aposta no fortalecimento da rede de pontos de Memória para sua consolidação como política pública. “Um dos momentos fundamentais que a gente encontra como resultado da participação dos pontos de Memória nessa Teia é exatamente a consolidação dessas redes que possibilitam o reforço do  exercício do direito à memória, que é o fundamento do programa”, considera .
  • Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
  • Fonte: Portal EBC

sexta-feira, 23 de maio de 2014

São Paulo recebe mostra da celebrada artista japonesa Yayoi Kusama

A artista japonesa Yayoi Kusama em 2011Foto: divulgação. Fonte: Estadão
Camila Molina - O Estado de S. Paulo
Depois de seu colapso nervoso na década de 1970 e da decisão de se internar em um hospital psiquiátrico no Japão, Yayoi Kusama "reencontrou sua voz" com a criação da instalação imersiva I’m Here, But Nothing, de 2000, uma sala mobiliada que remete a um cômodo banal de uma casa que é tomado, sob luz negra, por bolinhas coloridas. "Ela demorou para retomar sua autoconfiança, a fazer arte", diz Frances Morris, curadora, ao lado de Philip Larratt-Smith, da mostra Yayoi Kusama - Obsessão Infinita, que será inaugurada no Instituto Tomie Ohtake. De caráter retrospectivo, trata-se da maior exibição de obras da celebrada artista japonesa já realizada na América Latina.
No Rio, quando foi apresentada, ano passado, no Centro Cultural Banco do Brasil, a exposição atraiu 700 mil visitantes e depois seguiu para Brasília. Chega a São Paulo agora com expectativa de público e a presença de peças atraentes - e convidativas para "selfies" e fotos - como I’m Here, But Nothing e a instalação Infinity Mirrored Room (2011), feita de espelhos e lampadazinhas que vão mudando de cor. "São criações de uma canção similar, mas numa chave diferente, mais alegre", comenta Philip Larratt-Smith sobre esses trabalhos recentes de Yayoi Kusama, mas fazendo também menção ao universo poético - e complexo - da "princesa das bolinhas" (ou do "polka dot", como fala a curadora inglesa).
Na centena de trabalhos exibidos em quatro salas do instituto, é possível acompanhar de maneira muito clara o processo de concepção da linguagem da artista japonesa. A linha cronológica começa com uma obra de 1950, uma pintura a óleo surrealista em que ela representa apenas uma corda espessa emaranhada em si.
Entretanto, neste primeiro segmento de trabalhos pictóricos e gráficos reunidos ao lado desta tela, já aparecem as formas orgânicas que de um "olhar microscópico" se expandem para a escala macroscópica, fazendo, assim, com que as bolinhas se tornassem elemento identificável de obsessão ou uma marca de Kusama. Outra característica de suas criações são a presença de protuberâncias fálicas em suas peças dos anos 1960 (entre os destaques da mostra estão os sapatos fálicos da artista e o barco da instalação Caminhando no Mar da Morte) e das questões de repetição e acumulação.
Medos. "Artistas não costumam expressar seus complexos psicológicos diretamente, mas eu adoto meus complexos e medos como temas", já afirmou Yayoi Kusama e a frase está estampada no começo do catálogo da mostra Obsessão Infinita. "A arte precisa de traumas", diz Frances Morris, curadora da Tate Modern e responsável também pela retrospectiva da artista apresentada entre 2011 e 2012 não apenas no museu londrino, como também no Reina Sofia, de Madri, no Centro Pompidou, de Paris, e no Whitney Museum, de Nova York.
A mostra, grande sucesso por onde passou, reavivou mais uma vez o interesse pela obra da japonesa. "Para o Brasil, trouxemos alguns dos mesmos trabalhos daquela retrospectiva, mas em Obsessão Infinita focamos mais no período inicial de sua carreira e na transição de suas questões de vida para seu trabalho. Desde suas pinturas convencionais, criadas no Japão, para o engajamento dinâmico, político, de sua vivência em Nova York", afirma Frances Morris.
No Japão, Yayoi Kusama, nascida na cidade de Matsumoto, em 1929, se sentia sufocada pela tradição, pela situação de pobreza local no período pós-guerra e pela oposição de sua família à sua arte. "As cordas de suas primeiras pinturas são parte de sua resposta à destruição e desolação", define a curadora. Decidida a se tornar uma artista famosa, Yayoi Kusama se mudou em 1957 para a América - retornando a seu país natal apenas em 1973, por causa de sua doença mental.
Antes de chegar a Nova York, conta Frances Morris, a artista correspondeu-se com amigos da América. Entre eles, a pintora Georgia O’Keeffe, que lhe aconselhou "ser muito forte, pegar seus desenhos e levá-los, ela própria, aos marchands". Na década de 1960, ao trazer de uma maneira mais explícita suas neuroses e seus traumas para suas obras, Yayoi Kusama não apenas utilizou a arte como terapia como também realizou ações vanguardistas.
"Desde o início de sua vida na América, ela usou suas estratégias de uma maneira provocativa, criou vestimentas incríveis e chocantes, mas, ao mesmo tempo, suas obras sempre foram muito inclusivas", diz a curadora. "O uso das bolinhas e de cores chamam muito a atenção, mas é algo também bem sofisticado. Enfim, sua marca é muito poderosa", completa.
YAYOI KUSAMA
Instituto Tomie Ohtake.
Av. Faria Lima, 201, 2245-1900. 3ª a dom., 11 h/ 20 h. Grátis. Até 27/7.
Fonte: O Estadão

Artista plástico Vik Muniz abre mostra com obras inéditas no RS


Paulista foi acompanhado durante dois anos para filme 'Lixo Extraordinário'.
Obras expostas no Santander Cultural são feitas de materiais diversos.

Do G1 RS
Obra WWW, de Vik Muniz, estará exposta em Porto Alegre (Foto: Divulgação/Viki Muniz)Obra WWW, de Vik Muniz, estará exposta em Porto Alegre (Foto: Divulgação/Vik Muniz)
















O conceituado artista plástico Vik Muniz expõe em Porto Alegre pela primeira vez a partir desta quarta-feira (21). "O Tamanho do Mundo" fica em cartaz no Santander Cultural até o dia 10 de agosto e traz a nova série Postcards from Nowhere, de 2013, e as inéditas no país Sandcastles e Colonies. O paulista, radicado em Nova Iorque, é conhecido, principalmente, pelos materiais usados para fazer arte: geleias, terra e outros objetos diferentes.
Artista plástico é conhecido por usar elementos diversos em obras (Foto: Divulgação/Vik Muniz)Artista plástico é conhecido por usar elementos
diversos em obras (Foto: Divulgação/Vik Muniz)
A obra de Muniz foi acompanhada durante dois anos no documentário "Lixo Extraordinário", indicado ao Oscar em 2011. Na capital gaúcha, a mostra reúne 70 obras em diversos formatos, mídias e épocas. Ao longo de 25 anos, ele se consolidou como um dos expoentes da arte contemporânea internacional, realizando exposições em museus ao redor do mundo, incluindo as bienais de São Paulo, Whitney, Moscou e Veneza.
Além dos trabalhos autorais, duas salas no Santander Cultural são dedicadas a material documental e vídeos do making off de algumas produções. 
Vik Muniz, O Tamanho do Mundo
Curadoria Ligia Canongia
Santander Cultural Porto Alegre (Rua Sete de Setembro, 1028 - Centro Histórico)
De 21 de maio até 10 de agosto de 2014 - Entrada franca
Horários de funcionamento: terça a sábado, das 10h às 19h/ Domingo e feriados, das 13h às 19h.
Fonte: G1

terça-feira, 20 de maio de 2014

Madonna anuncia projeto social de arte

Da Redação
 
A cantora Madonna anunciou o lançamento de Art For Freedom, um novo projeto com o qual pretende resgatar a relação da arte com as transformações sociais no mundo.

"Já existiu um tempo na qual a arte refletia o que acontecia na sociedade. Artistas como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Richard Pryor e Jean-Luc Godard realizavam declarações políticas através de suas artes", afirmou a cantora em entrevista para a revista italiana "L'Uomo Vougue".

Art For Freedom é uma plataforma digital, em colaboração com Vice Media, que hospeda vídeos, fotos, ilustrações e documentos de performance que falam de intolerância e perseguição.

"[O objetivo de Art For Freedom] É encorajar as pessoas a acreditar que com arte podem produzir uma mudança no mundo, além de ser um grito contra a massificação da criatividade", afirmou ela. "Permitindo que nos consumam através do corporate branding, nos preocupando com a aprovação alheia e promovendo apenas o que é aceito e popular, matamos a nossa arte e tudo que é único em relação a ela", defende Madonna.

Mesmo sem dar muitos detalhes, seu novo disco, ainda em produção, terá ligação direta com o Art For Freedom.

Fonte:  O Debate

terça-feira, 13 de maio de 2014

Museu recebe exposição de bordados litúrgicos

Em paralelo a exposição, o Museu de Arte Sacra está promovendo um mini-curso gratuito de bordado
Créditos: DivulgaçãoExposição de Bordados LitúrgicosExposição de Bordados Litúrgicos
Iniciou nesta segunda (12) uma mostra que promete atrair um grande público para o Museu de Arte Sacra Dom Paulo Libório, mantido pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves. É a Exposição de Bordados Litúrgicos, que acontece no período de 12 a 30 de maio, em comemoração a 12ª Semana Internacional dos Museus.
A exposição mostra vários tipos de bordados que ornamentaram as vestes sacerdotais, as casulas de bispos de Teresina e os paramentos de altar do culto litúrgico no século XX, contando com peças do Museu de Arte Sacra Dom Paulo Libório, da Arquidiocese de Teresina e de algumas igrejas da capital. O evento ainda conta com o apoio da Secretaria Municipal de Economia Solidária.
O Museu de Arte Sacra também está promovendo um mini-curso gratuito de bordado, com pontos diversos, fazendo interagir os trabalhos de algumas das atuais bordadeiras de Teresina com os bordados litúrgicos realizados por bordadeiras do passado. O mini-curso está sendo ministrado pela professora de bordado, Lúcia de Fátima, até o 16 de maio, das 14 às 18 horas.
No sábado, 17 de maio, véspera do Dia Internacional dos Museus, bordadeiras de Teresina que se dedicam ao bordado litúrgico estarão presentes no Museu de Arte Sacra, contando suas experiências nesse trabalho e confraternizando com os integrantes do curso de bordado e, também, com os visitantes que queiram participar desse encontro. O Museu fica localizado na Rua Olavo Bilac, 1481 – Centro-Sul (esquina com rua 24 de janeiro).
Fonte: Capital Teresina

sexta-feira, 9 de maio de 2014

"Callas" é atração no palco do Theatro São Pedro

Com direção de Marília Pêra, montagem tem no elenco Sílvia Pfeifer e Cássio Reis

 Com direção de Marília Pêra, montagem tem no elenco Sílvia Pfeifer  e Cássio Reis<br /><b>Crédito: </b> Poderoso Chefão / Divulgação / CP
Com direção de Marília Pêra, montagem tem no elenco Sílvia Pfeifer e Cássio Reis 
Crédito: Poderoso Chefão / Divulgação / CP
Interpretar a maior cantora lírica de todos os tempos, sob direção de Marília Pêra, que viveu o papel em "Master Class" (1996), é o desafio de Sílvia Pfeifer em "Callas", que chega ao Theatro São Pedro (Praça da Matriz, s/n), nesta sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h. A atriz divide o palco com Cássio Reis, como o jornalista e amigo John Adams, que vai ajudá-la na abertura de uma exposição sobre sua vida.

"O autor conseguiu colocar uma riqueza enorme, ao mostrar uma Callas desesperada, doente, quase demente, que não sabe o que fazer, se sentindo sozinha, agressiva, firme, divertida, debochada e reconhecedora das coisas", diz Sílvia sobre a responsabilidade do papel. Antes de ver o texto, ela leu quatro livros, assistiu a filmes, ouviu suas óperas e fez aulas de canto, apesar de não cantar em cena. 

Na parte inicial, o repórter a entrevista sobre método de trabalho, problemas com críticos, diretores, relação com colegas e cancelamentos. Depois tem vez a vida pessoal, quando são revelados detalhes sobre sua relação com Onassis, a reação do marido à gravidez, a raiva de sua rival, Jackie Kennedy, o filho que perdeu, entre muitos outros fatos marcantes.

Dotado de vídeos, fotos, intervenções de áudio e frases do mito, o "documentário vivo", como é definido pela equipe, foi escrito por Fernando Duarte.


Fonte: Vera Pinto / Correio do Povo

terça-feira, 6 de maio de 2014

A intimidade de Frida Khalo

Mostra na Cidade do México exibe vestido, espartilho, prótese e outros objetos íntimos da artista mexicana

Adolescência. Foto de Frida em 1919, com 12 anos, também integra a exposição sobre a artista.
Cidade do México, México. Por 50 anos, o banheiro do quarto de Frida Kahlo (1907-1954) permaneceu trancado após sua morte, na casa onde hoje funciona um popular museu na Cidade do México. O espaço só foi aberto há dez anos, revelando diversos baús de objetos íntimos da artista, como cartas, fotografias e vestidos coloridos.
Enquanto as correspondências viraram livros sobre a artista mexicana, seu guarda-roupa e suas fotos vão aos poucos chegando ao público. É o caso de duas mostras em cartaz na capital mexicana e na Califórnia, nos Estados Unidos.
Mais de 300 peças de vestuário são exibidas até setembro na residência de Kahlo, apelidada de Casa Azul, em salas que mudam os figurinos a cada três meses. “Ela usava estes vestidos tradicionais para fortalecer sua identidade, reafirmar suas crenças políticas e também para esconder suas imperfeições”, diz a curadora Circe Henestrosa. “Seus amigos mais íntimos contam como Kahlo tinha um cuidado especial ao escolher o que vestir, dos pés à cabeça, com as mais lindas sedas, laços, xales e saias”, completa Henestrosa.
A exposição traz também aparatos médicos que a artista precisava usar por conta de suas enfermidades (primeiro o pólio e, depois, um grave acidente num ônibus). Há uma prótese de perna com uma bota de cano alto vermelha e um espartilho feito de gesso, decorado com uma foice e um martelo – em referência à bandeira da antiga União Soviética. Já a terceira sala do local tem objetos curiosos como um vidro de esmalte pink e adereços de cabeça. Outros espaços exibem vestidos de alta-costura, como Gautier e Givenchy, inspirados na pintora mexicana.
Em 1937, seu estilo a colocou nas páginas da “Vogue”. A revista ajudou na organização da mostra e anunciou um livro em parceria com o museu, a ser lançado na América Latina neste semestre.
Pinturas e fotos. Foi o muralista Diego Rivera (1886-1957), marido de Frida Kahlo, que havia dado as ordens para manter o banheiro fechado por 15 anos após a morte da artista. Mas o mecenas Dolores Olmedo (1908-2002), amiga íntima de Rivera, e que tinha muito ciúme de Kahlo, conseguiu manter o lugar lacrado por mais tempo.
Olmedo, maior detentora de obras dos dois artistas, tem um museu próprio na periferia da Cidade do México. Em março, abriu uma exposição com centenas de pinturas da dupla que estavam em itinerância havia dois anos. Outro lugar para ver as raridades do banheiro da Casa Azul é o Museu de Arte Latino-Americana de Long Beach (Califórnia), que exibe mais de 200 fotografias tiradas por Kahlo e de Kahlo.
Há lembranças de família, como retratos da artista aos seis anos, e imagens de amigos famosos como Man Ray (1890-1976). “É como sentar em sua sala de estar e folhear seu álbum de fotos. É muito pessoal”, disse o presidente do museu, Stuart Ashman. A mostra abriu com um concurso de sósias e tem programação extensa com palestras e atividades até junho.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Montagem "Callas" chega a Porto Alegre

Montagem "Callas" chega a Porto Alegre

Peça dirigida por Marília Pera conta com Silvia Pfeifer e Cássio Reis no elenco

Silvia Pfeifer encarna a diva do canto lírico<br /><b>Crédito: </b> Poderoso Chefão / Divulgação / CP
Silvia Pfeifer encarna a diva do canto lírico 
Crédito: Poderoso Chefão / Divulgação / CP
A montagem "Callas", dirigida por Marília Pera e com texto inédito de Fernando Duarte, cumpre temporada no Thetro São Pedro em Porto Alegre, de 9 a 11 de maio, com sessões sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h.

A narrativa, como em um documentário, exibe os relatos da diva lírica Maria Callas. Mostrada em sua fragilidade e força, em busca de um amor, pelo qual renunciou à sua consagrada carreira. Com Silvia Pfeifer e Cássio Reis.