sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Brasil adia obrigatoriedade das novas regras ortográficas para 2016

Decreto presidencial está no Diário Oficial da União

O governo brasileiro adiou por mais três anos o início da obrigatoriedade do uso do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O acordo que visa padronizar as regras ortográficas foi assinado em 1990 com outros países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Com o adiamento, as novas regras, que se tornariam obrigatórias daqui a quatro dias, só poderão ser cobradas a partir de 1º de janeiro de 2016. O novo prazo consta em decreto presidencial publicado nesta sexta-feira, no Diário Oficial da União.

No início do mês, o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) já havia antecipado que o governo federal adiaria a entrada em vigor do acordo. Na ocasião, o senador, membro da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, disse acreditar que o ideal seria elaborar um outro acordo, com maior participação da sociedade, e que só passasse a valer a partir de 2018.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o acordo ortográfico em 1990. Na época, o Timor-Leste, que hoje faz parte da CPLP, ainda não era uma nação independente. O país só aderiu ao acordo em 2004, após tornar-se independente. Cada país deve ratificar o documento assinado e definir os prazos para a entrada em vigor do novo acordo.

Em Portugal, a reforma foi ratificada e promulgada em 2008 e as novas regras entraram em vigor em maio de 2009, com a previsão de se tornarem obrigatórias em seis anos a partir dessa data. No Brasil, o acordo foi ratificado em setembro de 2008 e as novas regras já estão em uso, embora em caráter não obrigatório, desde 1º de janeiro de 2009.

O acordo também já foi ratificado por Cabo Verde (2006), São Tomé e Príncipe (2006), Guiné-Bissau (2009) e Timor Leste (2009). Moçambique e Angola ainda não ratificaram o documento.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=482029

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ingressos para o Porto Verão Alegre 2013 começam a ser vendidos sábado

Evento vai oferecer 63 espetáculos entre os dias 9 de janeiro e 17 de fevereiro

Espetáculo sobre envolvimento homoafetivo é uma das montagens inéditas no Porto Verão Alegre 2013<br /><b>Crédito: </b> Divulgação / CP
Espetáculo sobre envolvimento homoafetivo é uma das montagens inéditas no Porto Verão Alegre 2013 
Crédito: Divulgação / CP
Abrem no sábado as bilheterias para o Porto Verão Alegre 2013, evento que promoverá 63 espetáculos em dez salas da Capital, além de atrações de literatura, artes visuais, cinema e música, de 9 de janeiro a 17 de fevereiro. Os ingressos antecipados nos pontos de venda (My Ticket, DC Shopping, Shopping Bourbon Country e Praia de Belas) custam R$ 20 para teatro adulto e R$ 10 para infantil, contra R$ 25 e R$ 12 respectivamente, nos locais das apresentações. Idosos pagam R$ 12,50 e estudantes, deste valor até R$ 20,00, de acordo com o dia da semana.

Entre as novidades está a discografia do rock gaúcho, com shows de oito bandas consagradas, dois por noite, às 22h e 23h30min, no Bar Opinião. São eles: Frank Jorge e Wander Wildner (4 de fevereiro), Topáz e Bidê ou Balde (dia 5), Acústicos & Valvulados e Tequila Baby (dia 6) e Cachorro Grande e DeFalla (dia 7). 

A programação inclui ainda as peças inéditas “Entre Nós”, da Cia. Halarde, sobre o envolvimento homoafetivo, e “Fugindo para Viver”, da Cia. Hariboll, acerca do consumo de álcool pelos jovens e suas consequências.

Tem ainda cerca de 20 estreias recentes nos palcos, como “Landell de Moura”, “Beckett & Bion”, “Night Club”, “Querem Acabar Comigo” e um “Certo Capitão Verissimo” e ainda clássicos, como “Pois É, Vizinha” e “Adolescer”. E no ciclo Cinema e Psicanálise, exibição e debate dos documentários “Vinícius” (10 de janeiro) e “Uma Noite em 67” (22 de janeiro), na Associação Psicanalítica.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=481837

Botucatu receberá primeira Pinacoteca do interior de SP

Por: Panorama Brasil
São Paulo
O Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura de Botucatu formalizaram convênio que vai possibilitar a instalação da primeira unidade da Pinacoteca do Estado no interior paulista. A cerimônia aconteceu às 10h em frente ao antigo Fórum da cidade, que será reformado para receber a Pinacoteca Botucatu, com a presença do Governador Geraldo Alckmin, do secretário de Estado da Cultura, Marcelo Mattos Araujo, e do prefeito João Cury Neto. Ao todo, o Estado repassará R$ 11 milhões para o município, responsável pela realização das obras de reforma e adaptação do edifício, que abrigará também o Museu da Arte Contemporânea Itajahy Martins.  
A interiorização de ações é uma das prioridades estabelecidas pelo Governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Estado da Cultura. Com a instalação da Pinacoteca Botucatu, em parceria com a Prefeitura da cidade, o Governo do Estado cria um equipamento museológico que proporcionará a ampliação do acesso da população paulista a bens culturais de alta qualidade. A previsão é de que o novo edifício seja inaugurado no primeiro semestre de 2014, quando a construção completa 90 anos e o MAC Itajahy Martins chega aos 30 anos desde sua fundação. 
Projeto 
O prédio do antigo Fórum tem área total construída de 2.878 m², com subsolo, térreo, primeiro e segundo pavimentos. Foi projetado na década de 1920 pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo – o mesmo que construiu a Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Parque da Luz, e o edifício atualmente ocupado pela Estação Pinacoteca, ambos no centro da capital paulista. 
Segundo o projeto proposto, o MAC Itajahy Martins será instalado no térreo do edifício. A tradicional instituição museológica da cidade, hoje localizada no Espaço Cultural, tem cerca de 300 obras de importantes artistas nacionais e internacionais, com grande potencial de dialogar com o acervo da Pinacoteca. Ficarão no térreo também a recepção, bilheteria, café, loja e espaço para atividades educativas.
No primeiro ficará a área expositiva da Pinacoteca e mais um espaço educativo. No segundo pavimento será instalada a área administrativa. Já o subsolo do edifício será utilizado como área de serviços internos.
A Pinacoteca de Botucatu receberá, periodicamente, parte do acervo da Pinacoteca do Estado. A proposta é que o grande salão do júri do primeiro pavimento seja ocupado com uma exposição de longa duração, tendo como tema o panorama da arte brasileira da segunda metade do século XIX até os dias atuais. As salas menores deste andar serão utilizadas para exposições temporárias de fotografia e gravura. 
Educativo 
O projeto de instalação da Pinacoteca de Botucatu inclui a continuidade das ações educativas iniciadas em 2012, em parceria entre Pinacoteca do Estado e o MAC Itajahy Martins. As atividades incluíram a capacitação de professores da rede pública e particular, treinamento de educadores e realização de uma exposição conjunta de gravuras, que recebeu cerca de dois mil estudantes entre agosto e dezembro. 
Com a reforma do antigo Fórum, as atividades educativas poderão se concentrar também sobre a questão do patrimônio histórico e sua preservação. Quando o edifício estiver pronto, a expectativa é de que estas atividades beneficiem as cidades distantes até 100 quilômetros de Botucatu.   
Convênio 
A primeira parcela do convênio, no valor de R$ 2 milhões, será repassada à Prefeitura ainda em 2012. A contrapartida da Prefeitura será a instalação da expografia do museu e o custeio da nova Pinacoteca. 
 Fonte:http://www.panoramabrasil.com.br/cidades/botucatu-recebera-primeira-pinacoteca-do-interior-de-sp-id100329.html

16ª FEIRA INTERNACIONAL DE ARTESANATO, FIART 2012


Qualidade, beleza, colorido e diversidade
Mireya Castañeda
O artesanato sempre tem sido uma atividade fundamental na sociedade humana. É considerado um elemento vital da comunicação. O artesão busca um ritmo, uma cor em sua composição e harmonia na forma, com o propósito de criar um objeto funcional e, ao mesmo tempo, que produza prazer ao contemplá-lo.
A 16ª Feira Internacional de Artesanato, Fiart 2012 teve lugar de 7 a 23 de dezembro, no Pabexpo, em três grandes salas, a B, majoritariamente para os têxteis, a sala A para o calçado e a C para o mobiliário, ourivesaria, cerâmica e artigos de ferro.
O evento, que reúne arte, moda, artesanato, desenho e decoração se torna uma festa variada e interessante, pois concentra os melhores expoentes de suas especialidades, transformando-se num acontecimento cultural de grande qualidade, beleza, colorido e diversidade.
Nesta edição de 2012, sob o lema “Arte, Utilidade e Ofício”, foram montados uns 90 estandes estrangeiros: México, Colômbia, Peru, Argentina, Guatemala, Panamá, Espanha, Equador, Indonésia, Costa Rica, República Dominicana, Coreia do Sul, Venezuela, Itália, Nicarágua, Rússia, Romênia e Irã e 290 estandes cubanos, deles 260 de artesãos individuais.
Também teve lugar um evento teórico, intitulado “O desenvolvimento do artesanato ante os desafios da crise global”, que teve suas sessões entre os dias 10 e 14, e onde participaram artesãos, especialistas, empresários do México, Peru, Venezuela, Costa Rica, República Dominicana e Cuba, que debateram diversas temáticas, desde o desenvolvimento do artesanato como potencial exportável, até o uso de espécies silvestres para a elaboração de produtos e sua sustentabilidade, bem como o papel do artesanato no espectro da Alba cultural.
Número recorde de participação, mais de 6 mil pessoas todos os dias, confirma o constante crescimento da Feira e sua aceitação por parte do público cubano.
O diretor do Fundo Cubano de Bens Culturais e presidente do Comitê organizador da Fiart, Jorge Alfonso, respondeu algumas perguntas para esta página.
Como se desenvolveu o aspecto comercial?
“Com certeza, a Fiart é um evento comercial, mas em primeiro lugar é uma plataforma de promoção do artesanato cubano. Promoção porque temos criado um espaço para acordos com diferentes empresas estatais. Ainda, é uma expressão das possibilidades e potencialidades do artesanato para substituir importações. Um elemento que neste ano a diferencia é a qualidade das propostas. Por tal motivo, tem um valor econômico e funcional, mas também estético e cultural. Para nós, o mais importante dos resultados da Feira não só é o aspecto comercial imediato, senão o impulso que pode dar ao desenvolvimento do artesanato cubano. Também devemos destacar que temos grande aceitação do público, da família cubana, com mais de 6 mil visitantes cada dia”.
E o senhor a que atribui esse salto de qualidade?
“Acho que tem muito a ver a presença de novos atores e o impulso do setor não-estatal. Por exemplo, em 2008-09 os únicos que tinham a possibilidade de comerciar eram os artesãos que trabalhavam com o Fundo Cubano de Bens Culturais (FCBC) e outras instituições, mas neste momento aderem outros atores, como os trabalhadores independentes, as cooperativas não-agropecuárias. Acho que esses são elementos de impulso”.
Como qualifica então a presença dos estrangeiros?
“Neste ano tivemos representantes de 16 países, com 90 estandes. Temos que aspirar a que, qualitativamente, essa participação internacional seja maior e com um artesanato mais relevante. A presença internacional também é uma atração para o público participante, pois essas produções estrangeiras que encontram aqui não estão cotidianamente ao alcance da população, pois não fazem parte dos produtos que se comercializam habitualmente, então isto provoca uma expectativa. Mais de 50% dos assistentes visitam esses estandes. Os artesãos cubanos têm que concorrer”.
A Fiart 2013?
“ É preciso cuidar a qualidade das produções e exigir que se apresentem projetos de qualidade. Também o desenho se converte num desafio, em cada evento anual”.
Mas o certo é que a Feira Internacional de Artesanato foi um evento de fim de ano muito esperado.
Fonte: http://www.granma.cu/portugues/cuba-p/26diciembre-1fiart.html

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Quem é dono do conhecimento e da cultura?

18 DE DEZEMBRO DE 2012 - 14H56 

Estamos vivendo um processo histórico de definição dos marcos de propriedade intelectual e a possibilidade de rever nossos compromissos nesta área e da cultura de um modo geral como um direito humano.


Assim como em outras áreas do direito, atualmente há maior percepção de que na década de 90 – período de maior incidência neoliberal nas políticas públicas do país – houve demasiada e indevida concessão da dimensão pública e social aos marcos jurídicos de interesse ligados ao comércio internacional e, especialmente, aos grandes temas como investimentos, serviços e propriedade intelectual. 

A avaliação é de Carol Proner, doutora em direito, é coordenadora do Procade Democracia e Inclusão Tecnológica (UFSC/UniBrasil/PUC-PR/UNISANTOS), em entrevista ao Adverso, publicação do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre (Adufrgs Sindical).

Autora dos livros Propriedade intelectual e direitos humanos: Sistema Internacional de Patentes e Direito ao Desenvolvimento (Fabris, 2007), Propriedade Intelectual: para uma outra ordem jurídica possível (Cortez, 2008) e Inclusão Tecnológica e Direito à Cultural (Org. Funjab, 2012), Carol Proner é uma critica da ofensiva privatizadora na área da propriedade intelectual e da cultura de um modo geral. “O marco ideológico patrimonial é o mesmo, tendente a não permitir qualquer objeção de ordem social à lógica prevalecente da privatização sem limites”, afirma Proner. 

Qual sua avaliação sobre o atual estágio do debate sobre propriedade intelectual e direito autoral no Brasil? Estamos caminhando para uma legislação mais restritiva ou mais flexível?
A pergunta exige uma breve recuperação histórica do processo de revisão da Lei de Direito Autoral (LDA – Lei nº 9.610/98). Quando, já em 2007 e, em especial, na gestão do Ministro Juca Ferreira, se discutia a possibilidade de revisão e modernização da LDA, havia grande expectativa quanto ao surgimento de um marco vanguardista em matéria de inclusão cultural, acesso ao conhecimento, direito à cultura, valores que são a priori incompatíveis com modelos clássicos de livre iniciativa na comercialização de bens culturais. O debate tomou rapidamente grande proporção, tendo o governo contabilizado mais de mil contribuições apenas no primeiro mês de consulta pública. 

O processo amplo e participativo de reuniões periódicas também apresentou resultados qualitativamente surpreendentes, com propostas criativas e inéditas quando comparadas à legislação de países europeus. Ainda que muitas das propostas não tenham sido incorporadas na versão final do anteprojeto, havia espaço político e institucional para a discussão e a disputa de valores e direitos que supõem a grande propriedade do século 21: a propriedade intelectual. 

Obviamente o governo não estava estimulando a socialização da propriedade intelectual, mas uma tentativa de correção de rumos e assimetrias na concepção do direito de autor e na ideia de Indústria Cultural, bem como na identificação do intermediário, dos direitos do consumidor e da dimensão coletiva da cultura, do conhecimento, dos direitos de cidadania; a proposta foi a de construção de um novo marco legal capaz de compatibilizar a relação entre autores, investidores, usuários e cidadãos com o fim de estimular as criações e os investimentos, ampliar o mercado dessas obras e diminuir o número de processos judiciais que até hoje evidenciam os problemas decorrentes dessas assimetrias. 

Nesse sentido, a gestão Ana de Hollanda foi desconcertantemente diferente. A partir de então, como é sabido, produz-se um desânimo generalizado em razão da brusca interrupção do debate democrático e, no lugar, passa a prevalecer uma desconfiança a respeito dos atores privilegiados do Ministério. 

Na gestão da ministra deu-se seguimento ao anteprojeto de lei de Modernização da Lei de Direito Autoral, embora tendo resultado em uma versão menos flexível que a proposta do ministério anterior. O anteprojeto segue na Casa Civil desde outubro de 2011 e, após essa etapa, seguirá para avaliação do Congresso Nacional.

A nova Ministra Marta Suplicy devolve esperança quanto ao debate democrático, vez que já manifestou o desejo de rediscutir o tema, de estudar as opiniões que desde 2007 (gestão do então ministro Gilberto Gil) foram defendidas por grupos diversos. No dia 24 de setembro, ela disse à Agência Brasil: “Tem muitos grupos, muitas posições divergentes. Eu vou ter que entrar e conversar com todos os grupos até chegar na forma que preserve o autor e converse bem com o século 21, que é a contemporaneidade da internet”.

Portanto, há expectativa para que o debate da flexibilidade ganha força, bem como um adensamento da participação de atores e movimentos deixados de fora nos últimos dois anos. 

Quais seriam as principais ameaças hoje decorrentes da pressão pela adoção de leis mais restritivas (nesta área). Poderia citar alguns exemplos?
Além do anteprojeto de lei de Modernização da Lei de Direito Autoral, decorrente da gestão de Ana de Hollanda e que está na casa civil, é preciso lembrar, como o fez Manoel J. de Souza Neto, atual membro do Conselho Nacional de Políticas Culturais, que existem outros dois projetos em andamento e em disputa, um na Câmara dos Deputados, com base no projeto do ex-ministro Juca Ferreira e outro que resulta do relatório da CPI do ECAD, que está no Senado e ainda não virou PEC.

Um dos principais pontos dessa disputa decorre do monopólio de sociedades arrecadadoras, em especial as polêmicas envolvendo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), sociedade civil, de natureza privada, instituída pela Lei Federal nº 5.988/73 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais brasileira – 9.610/98. As denuncias contra o ECAD, por um lado, expõem as irregularidades diante da falta de fiscalização (CPI do ECAD realizada em 2011), e, por outro, mostram a crise deste órgão obsoleto diante das possibilidades de comunicação advindas da Internet. 

A polêmica do ECAD simboliza outras disputas e problemas mais específicos: a ausência de política adequada para o exercício de fiscalização e controle dos direitos autorais e, em decorrência, a naturalização de abusos, irregularidades e crimes cometidos por entidades não legitimadas; a ausência de políticas que estabeleçam limites ao privado ao mesmo tempo em que defenda a função social da propriedade intelectual; a prática de uma cultural elitista de direitos autorais em contraposição a alternativas democráticas, socializantes e de compartilhamento da cultura e do saber, das quais são exemplos as Licenças Gerais Públicas, os Creative Commons, entre outras formas de transferência dos bens derivados do direito autoral.

As possibilidades de compartilhamento são cada vez maiores e a pressão das grandes empresas por fechar conteúdos também. Quem ganha essa queda de braço?
A notícia dos últimos dias é o adiamento da votação pela Câmara, pela 6ª vez, do Marco Civil da Internet (PL 2126/2011). Trata-se do projeto de lei que visa estabelecer direitos e deveres na utilização da rede mundial de computadores. Podem-se imaginar as tensões que decorrem desse processo que visa definir as condições de uso da Internet em relação aos direitos e deveres de usuários, prestadores de serviços e provedores de conexão, bem como a adequação do papel do poder público nesse processo, um verdadeiro campo minado! 

O processo de construção do Marco Civil da Internet no Brasil é modelo de vanguarda quanto à forma. Foi construído com ampla participação democrática, de forma aberta, transparente e acessível, utilizando os debates e as propostas apresentadas na consulta pública e outros espaços promovidos nos últimos três anos, o que justifica a perplexidade dos atores que participaram do processo democrático diante das alterações de último minuto.

Um dos pontos polêmicos está no tema da liberdade de expressão. Há temores, principalmente a partir das modificações de última hora feitas ao artigo 15º, quanto à possibilidade de censura prévia e da abertura para punir conteúdos. Na redação anterior estabelecia-se que seria proibido que qualquer provedor de Internet retirasse do ar conteúdos de seus clientes sem mandato judicial, ou seja, somente o judiciário poderia determinar a retirada de conteúdos da Internet. Já o novo texto abre, como exceção, a possibilidade de retirada de conteúdos por meio de denuncia de direito autoral, transferindo a responsabilidade sobre o julgamento a respeito do conteúdo para o provedor da Internet. Os próprios provedores são contrários a essa mudança trazida pela nova redação do artigo 15º (conf. posição da Associação dos Provedores de Internet). 

O temor tem conexão com a polêmica Lei Azeredo, proposta que está atualmente na Câmara dos Deputados e que visa estabelecer punições para determinados crimes na web. No plano internacional há iniciativas em sintonia, como o projeto de lei em discussão nos Estados Unidos conhecido como SOPA (Stop Online Piracy Act, ou Lei de Combate à Pirataria Online), iniciativa apoiada pela Motion Pictures Association of America (MPAA) e pela Recording Industry Association of America (RIAA), que alegam prejuízos na indústrias cinematográfica e fonográfica.

Outro tema de desgosto está na questão da neutralidade da rede. De acordo com o princípio da neutralidade, todas as informações que trafegam na rede devem ser tratadas da mesma forma, navegando a mesma velocidade. É esse princípio que garante o livre acesso a qualquer tipo de informação na rede. 

O modelo a que se chegou no Marco Civil da Internet foi o de que, via de regra, prevalece a neutralidade dos conteúdos e que, por exceção, haveria interferência do poder público em consulta ao Comitê Gestor, órgão composto por múltiplos representantes, inclusive da sociedade civil. Na queda de braço com as operadoras de telecomunicações houve modificação de última hora no artigo 9º, fazendo prever a Anatel como responsável pela regulação da neutralidade.

Para Marcelo Branco, representante da Associação SoftwareLivre.org, a Anatel é o setor que mais tem, no mundo inteiro, interesses em quebrar a neutralidade. Além disso, segundo expressa, há também uma quebra grave de expectativa com relação ao princípio de participação e de construção do texto, submetido a consulta pública durante um ano e que agora é desrespeitado por modificações por lobby de interesses.

Tendo a concordar com Marcelo Branco, não apenas no conteúdo, como também na forma, pois as consultas públicas são uma ferramenta das mais fundamentais quanto à participação da sociedade no processo de construção legislativa e de políticas públicas. O desrespeito ao processo de consulta pública – nesse caso em temas estruturais como a questão da liberdade de expressão e o princípio da neutralidade – acarreta necessariamente um problema de legitimidade ao texto imposto fora das regras do jogo democrático.

Em que medida, as evoluções tecnológicas e de comportamento na internet, especialmente a partir da explosão das redes sociais, podem influenciar a definição de novas leis? 
São tantas as possibilidades de exemplificar o fenômeno da Internet na participação social e política, mas creio que o melhor e mais atual pode ser o papel das redes nas recentes eleições municipais, consideradas históricas justamente por isso. As redes sociais foram usadas como estratégia de campanha pela maioria dos candidatos, inclusive para corrigir vantagens de tempo de televisão e rádio. 

Ao mesmo tempo, a possibilidade livre de manifestação de opinião a respeito dos candidatos, propostas, partidos, faz da rede um espaço inigualável de participação livre quando comparado com as mídias tradicionais nas quais, entre tantos problemas, o espectador é passivo e inativo. Essas são razões suficientes para reafirmar as preocupações manifestadas anteriormente, quanto à censura prévia e ao cuidado com o princípio de neutralidade na rede (até, nesse caso, por preocupações quanto a censura política).

A Internet também favorece processos de participação fomentados pelo Governo, entre os quais está a ferramenta de consulta pública via Internet, fazendo parte das chamadas Tecnologias da Informação (TICs) na administração pública. 

Como visto com a LDA e o Marco Civil da Internet, trata-se de uma tendência de ampliação da participação democrática que acompanha os melhores e mais avançados princípios da administração pública, favorecendo a transparência e o controle social. No entanto, esses “convites à participação” devem vir acompanhados do respeito ao processo participativo de elaboração de propostas, argumentos e considerações sem o qual o instrumento passa a se transformar no exato oposto, na demagogia cruel da ilusão participativa. 

Você tem uma tese de doutorado sobre Propriedade Intelectual e Direitos Humanos? Em que medida o debate sobre Direitos Humanos entra na questão da propriedade intelectual?
A propriedade intelectual e a propriedade tradicional de bens experimentaram semelhante trajetória jurídica. No entanto, a primeira, por ser invisível, levou mais tempo para se projetar como elemento essencial na divisão de direitos e valores da sociedade moderna. Passou por fases de pouco ou nenhum reconhecimento até se destacar como fator essencial para o desenvolvimento da economia capitalista internacional. 

A categoria propriedade intelectual envolve múltiplas temáticas associadas e, por consequência, inúmeros efeitos nas necessidades humanas: pode versar sobre direitos autorais, desenhos e processos industriais, marcas, patentes de invenção, denominações de origem, contratos de transferência de tecnologia, saberes tradicionais, costumes populares, artes reproduzidas em pintura e escultura, música, enfim, estamos falando da grande propriedade do século XXI cujas consequências são complexas e necessariamente afetam os direitos humanos, o direito ao desenvolvimento, o acesso a bens resguardados por sistemas de exclusividade e monopólios industriais.

No momento da tese doutoral minha preocupação maior era identificar as normativas internacionais – e os espelhos de legislação interna – que ocasionaram um sentido único de proteção jurídica de PI e suas implicações ao desenvolvimento ou não desenvolvimento de economias de Estados e regiões, seguindo a hipótese de que a dependência tecnológica gera dependência econômica e esta, por sua vez, gera pobreza e miséria capazes de violar a plenitude dos direitos humanos. 

No campo do direito autoral a reflexão possui peculiaridades, é necessariamente diferente da que é feita no campo do direito da patentes e invenções industriais, mas o marco ideológico patrimonial é o mesmo, tendente a não permitir qualquer objeção de ordem social à lógica prevalecente da privatização sem limites. 

Esse debate está sendo feito hoje dentro da Academia, no Brasil? 
Na academia, como retrato da sociedade brasileira, vivemos processos de disputa permanente pelo modelo de sociedade que se deseja construir, entre os quais está também a releitura do recente processo histórico de definição dos marcos de propriedade intelectual e a possibilidade de rever nossos compromissos na área de PI e da cultura como um direito humano. 

Assim como em outras áreas do direito, atualmente há maior percepção de que na década de 90 – período de maior incidência neoliberal nas políticas públicas do país – houve demasiada e indevida concessão da dimensão pública e social aos marcos jurídicos de interesse ligados ao comércio internacional e, especialmente, aos grandes temas como investimentos, serviços e propriedade intelectual. A sociedade brasileira amadurece ao perceber que o passado autoritário não foi apenas o período autoritário militar, mas também o autoritarismo dos mercados em sintonia com governos subservientes. 

Os centros de direito são, normalmente, mais conservadores nas críticas aos marcos legais hegemônicos na área de PI, mas há iniciativas importantes que estão trabalhando o tema da democratização cultural como linha prioritária de investigação e de realização de direitos fundamentais. 

Nesse sentido, recentes iniciativas governamentais de políticas públicas são animadoras, como as formuladas pelo Sistema Nacional de Cultura e também propostas como a PEC 150 que propõe o Vale Cultura, que visa fornecer renda aos trabalhadores para o consumo cultural.

Fonte: Carta Maior
Fonte: http://www.vermelho.org.br/rr/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=201618

Ministério Público da PB fará inspeções em bens históricos e culturais, em 2013

O Ministério Público da Paraíba, através da Promotoria do Meio Ambiente e do Patrimônio Social de João Pessoa, vai realizar, a partir de fevereiro de 2013, inspeções conjuntas com órgãos publicos nos bens históricos e artísticos móveis, imóveis e documentais da Capital. Nesta terça-feira (18), o projeto de fiscalizações foi apresentado pelo promotor de Justiça João Geraldo Barbosa, audiência ocorrida na Sede das Promotorias Especializadas.  

Participaram da reunião representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PB), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Defesa Civil do Estado, da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), da Coordenadoria do Patrimônio Cultural (Copac). O promotor lamentou a ausência de representantes do governo do Estado e da Secretaria Estadual de Cultura.

O promotor ressaltou, na reunião, a importância da atuação administrativa para evitar futuras ações judiciais movidas pelo Ministério Público. Ele apontou ainda a necessidade de um inventário dos bens históricos e culturais como resgate da cultura e a certeza do local e responsabilidade.

João Geraldo destacou a importância da elaboração de uma cartilha para educar a população sobre os valores históricos-culturais, da elaboração de uma agenda cultural para análise da programação adequada para cada bem cultural.

Durante a reunião, o promotor esclareceu que o Iphan , o Iphaep e o poder público estadual e municipal devem cumprir suas atribuições previstas em lei, para evitar a judicialização pelo MPPB, em razão da omissão dos órgãos.

Urbanismo Outro ponto discutido na reunião foi necessidade de o Estado e Município investirem em uma estrutura mais ampla e futurística capaz de acompanhar o progresso e evitar que as novas vias públicas sejam construídas sem pavimentação com rede hidráulica e elétrica subterrânea e de cabeamento estruturado da rede de dados, voz e multimídia.



Assessoria

Fonte: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20121218140859&cat=cultura&keys=ministerio-publico-pb-fara-inspecoes-bens-historicos-culturais

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Porto Alegre se prepara para o Fórum Social Mundial 2013

Prefeitura calcula R$ 4 milhões em investimentos

Prefeitura calcula R$ 4 milhões em investimentos<br /><b>Crédito: </b> Luciano Lanes / PMPA / CP
Prefeitura calcula R$ 4 milhões em investimentos 
Crédito: Luciano Lanes / PMPA / CP
Porto Alegre irá para receber milhares de pessoas para mais uma edição do Fórum Social Mundial Temático, que será realizado entre os dias 26 a 31 de janeiro de 2013. O evento foi lançado oficialmente nesta segunda-feira, no Espaço Democrático da Assembleia Legislativa. A novidade desta edição é a realização da primeira edição da Semana do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, incluída no calendário oficial da cidade no final de novembro. A semana foi criada com o objetivo de expressar o reconhecimento da Capital em relação à importância política, econômica, ambiental, social, cultural e turística do evento internacional.

O prefeito José Fortunati destacou a união de esforços das mais de 80 entidades parceiras para a realização e êxito do evento. “A prefeitura quer, dentro do possível, dar toda a infraestrutura e oferecer os locais adequados, permitindo que o Fórum aconteça com muita qualidade”, salientou. Fortunati fez questão de salientar o reconhecimento da autonomia das entidades que promovem o FSM. “São elas que coordenam e que pautam o Fórum, mas nós temos o compromisso de dar as condições para que o debate seja o melhor possível”, disse. Conforme o prefeito, o secretário de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, ficará encarregado pelas atribuições do poder público municipal, ou seja, pela infraestrutura e subsídios necessários para a realização do evento. 

A Prefeitura de Porto Alegre calcula que serão investidos em torno de R$ 4 milhões na realização do FSM. Em relação à expectativa para o evento, o prefeito falou do desejo de ter em Porto Alegre uma grande concentração de militantes sociais, políticos e lideranças sindicais. “Queremos o amplo diálogo de todos aqueles que desejam pensar o mundo não somente de acordo com a lógica do capital financeiro, mas pela lógica da maioria da população que trabalha e produz”, ressaltou.

O representante da Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais (Abong), Mauri Cruz, falou sobre o calendário e os espaços da cidade de Porto Alegre que serão utilizados pelo Fórum, que terá como tema “Democracia e Cidade Sustentável”. No sábado, dia 26 de janeiro, ocorrerá a tradicional marcha. No domingo, dia 27, haverá um dia de mobilização e o início da parte cultural. Integram a estrutura do Fórum o Acampamento da Juventude, Aldeia da Paz, Anfiteatro Por-do-Sol, Largo Zumbi dos Palmares, Casa Mário Quintana, Memorial do Rio Grande do Sul, Praça da Alfândega e Escola Parobé ou Rio Grande (Forinho).

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Fonte: Correio do Povo http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=480561

Fortaleza dos diversos símbolos

A Praça do Ferreira é considerada, por muitos fortalezenses, como um dos ícones da cidade, mas há outras opiniões
"Como é realmente a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que contém e o que esconde...". Fortaleza é assim, exatamente como indaga Ítalo Calvino no trecho de "As Cidades Invisíveis". Não existe um único símbolo que a represente, diferentemente de como acontece com outros locais do mundo.

Praça do Ferreira, Theatro José de Alencar, Ponte dos Ingleses, Forte de N. Senhora de Assunção, Farol do Mucuripe e Centro Dragão do Mar são elementos simbólicos de Fortaleza fotos: Kid Junior, alex costa, Rodrigo carvalho, Natasha mota e Waleska Santiago

Fortaleza tem vários elementos que lembram a sua história e são significativos para a cidade, como o Theatro José de Alencar, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a Ponte dos Ingleses e outros. No entanto, isso acaba dificultando a formação de uma identidade própria. Na opinião do professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e membro da Academia Cearense de Letras, Batista de Lima, vivemos em um lugar sem identidade.

"Até os anos de 1940, vimos a Belle Époque (influência francesa). Depois veio a interferência inglesa. Portanto, os símbolos mudam e estão ligados a uma época", explica. O membro da ACL pontua que a falta de uma simbologia própria é prejudicial à cultura do Município. A população se confunde na hora de apontar o símbolo da Capital.

Prova disso é que o pôster, que divulga Fortaleza como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, traz nove elementos como representantes da cidade.

O brasão do Município, presente na bandeira, traz o Forte Nossa Senhora de Assunção que, junto com o hino, forma o conjunto de símbolos oficiais. Já a personagem Iracema, do romance homônimo do escritor cearense José de Alencar, traz elementos que remontam ao surgimento do povo do Ceará e à geografia de Fortaleza, daí ter se tornado ícone cultural da localidade, por meio de lei municipal.

A Praça do Ferreira, que abriga a Coluna da Hora, foi considerada ícone da cidade pelo concurso "Eleja Fortaleza", promovido pelo Sistema Verdes Mares, em 2001. De fato, o logradouro tem uma importância muito grande para os fortalezenses. Uma pesquisa feita pelo Diário do Nordeste revelou que metade dos entrevistados acredita ser o equipamento o mais representativo para a Capital. Para eles, a praça é o local que abriga as pessoas.

Segundo a professora da Unifor, Erotilde Honório, que dirigiu o documentário "Flertando com a Praça", historicamente, o logradouro funcionava como um centro de negociação, onde aconteciam as trocas comerciais. Também era lugar de sociabilidade. "É como se a praça fosse uma extensão do quintal de cada um, servindo de espaço de conversas, troca de ideias e veículo de mediação dos diálogos. Só a presença das pessoas confere ao local o título de coração da cidade", esclarece.

A coordenadora do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e arquiteta, Márcia Sampaio, afirma que Fortaleza tem multiplicidade. "É uma cidade viva, onde estão sempre surgindo novos símbolos", aponta. Para ela, é a afetividade que faz com que elementos se tornem ícones. "O símbolo vai tratar da presença da comunidade junto ao bem".

Na tentativa de criar um elemento único para Fortaleza, o Governo do Estado do Ceará tem um projeto para a construção de um Centro de Convenções de entretenimento e cultural, na Praia Mansa, que servirá de símbolo arquitetônico.

Mas, para Augusto César Paiva, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Ceará (IAB-CE), depois que a elite criou a ideologia de que a cidade tem uma forte vocação para o turismo, a necessidade de criação de um símbolo tem se tornado imposta. "A criação de qualquer ícone, sem legitimação pelo processo histórico, está fortemente fadada ao fracasso. O símbolo poderá se tornar um elemento sem representatividade na memória de seu povo. A memória, essa sim, é o elemento chave para a construção de símbolos", conclui.

História com simbolismos, mas sem conhecimento
Com tantos símbolos, a memória não permeia o imaginário dos fortalezenses. Falta conhecimento histórico. A população, às vezes, até tem contato com elementos do patrimônio municipal, mas não sabe o que eles representam para a cidade.

Fortaleza já tem os seus símbolos, como afirma o membro do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Ceará (IAB-CE), Augusto César Paiva, alguns já descobertos e outros a serem descobertos. "Dentre os desvendados, podemos citar: o Theatro José de Alencar, a Praça do Ferreira, a Praia de Iracema, o Estádio Presidente Vargas, o Bairro do Benfica", contabiliza.

Já a arquitetura do Centro da Cidade, escondida por trás das placas, dos postes e das fiações, poderá tornar-se símbolo de Fortaleza, por exemplo. Augusto César Paiva comenta que não somente a arquitetura pode tornar-se símbolo de uma cidade; a música, a escultura e a natureza também podem. Os símbolos não necessariamente são arquitetônicos, porém, devem ser históricos.

Divulgação
A Coordenação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) revela que trabalha com a divulgação dos equipamentos e com o tombamento como forma de preservá-los. "Lançamos uma cartilha voltada para a educação patrimonial e um guia cultura de bolso, informando todos os equipamentos e programações culturais que a cidade dispõe", lista a coordenadora Márcia Sampaio.

Além disso, junto com a Secretaria Municipal de Educação, a Secultfor realiza feiras de livros didáticos com a história de Fortaleza e com explicações sobre o tombamento, com intuito de divulgar a importância da ação para o bens culturais.

Márcia considera a atual gestão como a que mais investiu na cultura e na história. "Fizemos várias adequações na lei, criamos o Conselho de Patrimônio Histórico, que define os bens a serem tombados, e já tornamos 44 equipamentos protegidos". No total, são 53 bens tombados, sendo 19 por meio de decreto, além de dois reconhecidos enquanto Patrimônio Imaterial.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Cidade: fruto da multiplicidade de vozes e culturasErick Assis - Historiador e professor da Uece

Uma cidade é fruto de uma multiplicidade de vozes. Ela é polifônica por excelência. A literatura moderna sobre a urbanização já reconhece isso há muito tempo. E por que isso ocorre? Bem, tem política no meio desse fenômeno. As cidades ganham identificação histórica com um ícone a partir de uma disputa de valores estéticos, culturais, religiosos, econômicos, políticos. Enfim, no fim, quem tiver mais força política de barganhar junto ao poder público e/ou privado ganha o predomínio de uma imagem a ser homenageada. Eu quero dizer com isso que nada é a toa em relação à criação de símbolos que representem a "cara" de uma cidade.

Nós ouvimos falar de que Fortaleza não tem um ícone específico. Na minha opinião, o mar tem uma vocação natural para ser um símbolo dessa cidade. A coluna da Hora, nos anos 1930, tinha importância, ficou até bem pouco tempo sendo uma referência. O que faz um monumento ser ícone são várias injunções conjugadas. Os interesses de grupos, indivíduos, do Estado e da iniciativa privada, tudo isso depende da relação de forças que se estabelece para fazer realçar determinado tipo de legado da memória.

O que garante a predominância de um ícone se reflete, em boa medida, na formação histórica de um povo. Não tenho a menor dúvida de que a maioria dos fortalezenses tem debilidade em sua formação histórica. Aqui não se tem uma cultura histórica consolidada, fazemos um turismo piegas. Nossas escolas, na sua maioria, estudam História do Ceará e de Fortaleza como algo secundário.

ENQUETE
O que pode representar a Capital?
Escolheria o Theatro José de Alencar como ícone de Fortaleza por sua história e por receber o nome do escritor cearense. Acho que a Cidade deveria ter somente um símbolo que a representasse.

Ana Lídia CostaEstudante

Acredito que o Dragão do Mar seja o equipamento mais representativo de Fortaleza. Trata-se do point cultural da Cidade, onde estão reunidos vários elementos de arte, cultura e lazer. Também tem significação arquitetônica.

Andreza pereiraEstudante

Para mim, a jangada é o que melhor representa Fortaleza. É uma coisa antiga que lembra os pescadores e o Mucuripe, bairro de tradição da cidade. Acho que Fortaleza deveria ter apenas um símbolo.

Pedro simãoPorteiro

LINA MOSCOSOREPÓRTER 
Fonte:http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1215154