quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Arte contemporânea é farsa

A mexicana e crítica de arte Avelina Lésper causa furor por onde passa por falar o que muita gente pensa mas não tem coragem de dizer 


Avelina Lésper, em conferência sobre artes na Cidade do México, não poupou nem os grandes consagrados como Gabriel Orozco e Damien Hirst
Da Redação

Com a finalidade de dar a conhecer seus argumentos sobre os porquês da arte contemporânea ser uma “arte falsa“, a crítica de arte Avelina Lésper apresentou a conferência “El Arte Contemporâneo –– El dogma incuestionable” na Escuela Nacional de Artes Plásticas (ENAP), na Cidade do México, sendo ovacionada pelos estudantes na ocasião. 

A arte falsa e o vazio criativo 

“A carência de rigor (nas obras) permitiu que o vazio de criação, o acaso e a falta de inteligência passassem a ser os valores desta arte falsa, entrando qualquer coisa para ser exposta nos museus”. 

A crítica explica que os objetos e valores estéticos que se apresentam como arte são aceitos em completa submissão aos princípios de uma autoridade impositiva. Isto faz com que, a cada dia, formem-se sociedades menos inteligentes e aproximando-nos da barbárie. 

O ready made 


Lésper aborda também o tema do ready made, expressando perante esta corrente “artística” uma regressão ao mais elementar e irracional do pensamento humano, um retorno ao pensamento mágico que nega a realidade. A arte foi reduzida a uma crença fantasiosa e sua presença em um mero significado. “Necessitamos de arte e não de crenças”.

Gênio artístico 

Da mesma maneira, a crítica afirma que a figura do “gênio”, artista com obras insubstituíveis, já não tem possibilidade de manifestar-se na atualidade. “Hoje em dia, com a superpopulação de artistas, estes deixam de ser imprescindíveis e qualquer obra substitui-se por outra qualquer, uma vez que cada uma delas carece de singularidade”.

O status de artista 

A substituição constante de artistas dá-se pela fraca qualidade de seus trabalhos, “tudo aquilo que o artista realiza está predestinado a ser arte, excremento, objetos e fotografias pessoais, imitações, mensagens de internet, brinquedos etc. Atualmente, fazer arte é um exercício ególatra. As performances, os vídeos, as instalações estão feitas de maneira tão óbvia que subjuga a simplicidade criativa, além de serem peças que, em sua grande maioria, apelam ao mínimo esforço e cuja acessibilidade criativa revela tratar-se de uma realidade que poderia ter sido alcançada por qualquer um”.

Neste sentido, Lésper afirma que, ao conceder o status de artista a qualquer um, todo o mérito é-lhe dissolvido e ocorre uma banalização. “Cada vez que alguém sem qualquer mérito e sem trabalho realmente excepcional expõe, a arte deprecia-se em sua presença e concepção. Quanto mais artistas existirem, piores são as obras. A quantidade não reflete a qualidade”.

Que cada trabalho fale pelo artista 

“O artista do ready made atinge a todas as dimensões, mas as atinge com pouco profissionalismo. Se faz vídeo, não alcança os padrões requeridos pelo cinema ou pela publicidade. Se faz obras eletrônicas, manda-as fazer, sem ser capaz de alcançar os padrões de um técnico mediano. Se envolve-se com sons, não chega à experiência proporcionada por um DJ. Assume que, por tratar-se de uma obra de arte contemporânea, não tem porquê alcançar um mínimo rigor de qualidade em sua realização”.

Lésper define o ready made como uma regressão ao mais elementar e irracional do pensamento humano. “Os artistas fazem coisas extraordinárias e demonstram em cada trabalho sua condição de criadores. Nem Damien Hirst, nem Gabriel Orozco, nem Teresa Margolles, nem a já imensa e crescente lista de artistas o são de fato. E isto não o digo eu, dizem suas obras por eles”.

Para os estudantes 

Como conselho aos estudantes, Avelina diz que deixem que suas obras falem por eles, não um curador, um sistema ou um dogma. “Sua obra dirá se são ou não artistas e, se produzem esta falsa arte, repito, não são artistas”.

O público ignorante 

Lésper assegura que, nos dias que correm, a arte deixou de ser inclusiva, pelo que voltou-se contra seus próprios princípios dogmáticos e, caso não agrade ao espectador, acusa-o de “ignorante, estúpido e diz-lhe com grande arrogância que, se não agrada é por que não a percebe”.

“O espectador, para evitar ser chamado ignorante, não pode dizer aquilo que pensa, uma vez que, para esta arte, todo público que não submete-se a ela é imbecil, ignorante e nunca estará à altura da peça exposta ou do artista por trás dela. Desta maneira, o espectador deixa de presenciar obras que demonstrem inteligência”.

Finalizando 

Finalmente, Lésper sinaliza que a arte contemporânea é endogâmica, elitista, com vocação segregacionista, e é realizada para sua própria estrutura burocrática, favorecendo apenas às instituições e seus patrocinadores.

“A obsessão pedagógica, a necessidade de explicar cada obra, cada exposição gera a sobreprodução de textos que nada mais é do que uma encenação implícita de critérios, uma negação à experiência estética livre, uma sobreintelectualização da obra para sobrevalorizá-la e impedir que a sua percepção seja exercida com naturalidade”.

A criação é livre, no entanto a contemplação não é. “Estamos diante da ditadura do mais medíocre”. (Dica de Tyrannusmelancholicus.com.br)


Texto reproduzido dos sites Vanguardia (bit.ly/1fkC6HB) e Incubadora de artistas (bit.ly/1k2wi6H). 


Fonte: Diário de Cuiabá

Nenhum comentário:

Postar um comentário