Willam Pereira mostra mosaico feito com restos de cerâmica tiradas de lixão (Foto: Isabella Formiga/G1) |
Isabella FormigaDo G1 DFMorador de São Sebastião, no Distrito Federal, o pedreiro Willam Pereira, de 32 anos, encontrou em restos de material de construção o meio para produzir arte, na forma de mosaicos. Fã de Athos Bulcão, ele passa até dois dias trancado em seu ateliê trabalhando e diz já ter recebido convites para expor na Inglaterra. Pereira não tem curso na área e conta que aprendeu a fazer mosaicos "por acaso", enquanto trabalhava com cerâmicas em uma obra, há seis anos.
“Estava fazendo assentamento de cerâmica quando uma peça caiu e se partiu em mil pedaços”, diz. “Fiquei observando na hora e me veio a ideia. Pensei: ‘Que bacana, vou tentar’, e fui fazendo. Abandonei tudo que estava fazendo e caí de cabeça nesse trabalho. Vinha na mente imagens, desenhos, e fui testando assim. Meu primeiro desenho foi uma coruja.”
Pereira, que é pedreiro desde os 13 anos e não concluiu o ensino médio, diz que aprendeu tudo o que sabe experimentando e por meio da internet. “Fui pesquisar mais sobre essa arte e descobri que tinha nome: mosaico. É uma das artes mais conceituadas do mundo.”
Para buscar cores diferentes e incomuns para compor as imagens, Pereira diz que vai a um lixão perto dos Jardins Mangueiral. “Quando faltam pedaços coloridos para fazer uma imagem, busco lá o vermelho, amarelo, que é mais difícil de achar”, diz. “Se vou no lixo e vejo algo que pode ser reaproveitado, vou lá e faço. Tudo é um quebra-cabeça. Não tem limite de tamanho, faço mesa, quadro, até mural para parede.”
Para poder trabalhar, o pedreiro aluga uma quitinete por R$ 400 mensais que usa como ateliê. Ele conta que passa dias imerso no trabalho, ouvindo música e se dedicando a projetos. “Tem vezes que viro a noite e vou trabalhar igual um zumbi, sem dormir, porque isso exige muita paciência, técnica e concentração para sair perfeito”, diz. “Às vezes, saio do trabalho e venho direto para cá. Fico até 2h, 3h da manhã fazendo.”
“Já fiquei dois dias trancado no quarto. Estava parado, desempregado, as contas chegando, quando, graças a Deus, saiu uma encomenda: uma mesa enorme para a Escola de Música de Brasília. Recebi R$ 1,2 mil", conta. Apesar disso, a maior parte das obras que ele faz é vendida por valores bem abaixo do preço de mercado.
Pereira conta que fez amizades com artistas de todo o mundo pela internet e que não conseguiu expor seu trabalho na Inglaterra porque não tinha recursos. “Não tive como ir, não tinha como. Não tinha dinheiro e nem passaporte”, diz. “Mas é bacana saber que seu trabalho é reconhecido por pessoas do primeiro mundo, que valorizam a arte”.
Sonho
Além de sonhar viver da arte, o pedreiro diz que deseja fazer grandes obras em lugares públicos, como estações de metrô, a exemplo do que viu em fotos tiradas em países europeus. “Quantos mosaicos eu não poderia fazer, de personalidades, imagens de presidentes, pessoas ilustres, que fizeram história na política? Poderia usar esse talento levando arte para os lugares”, diz. “Não tem nenhum custo, gastei R$ 2 com cimento para fazer uma peça, o resto acho no lixo.”
Além de sonhar viver da arte, o pedreiro diz que deseja fazer grandes obras em lugares públicos, como estações de metrô, a exemplo do que viu em fotos tiradas em países europeus. “Quantos mosaicos eu não poderia fazer, de personalidades, imagens de presidentes, pessoas ilustres, que fizeram história na política? Poderia usar esse talento levando arte para os lugares”, diz. “Não tem nenhum custo, gastei R$ 2 com cimento para fazer uma peça, o resto acho no lixo.”
Para conseguir reconhecimento do governo local como artista, no entanto, Pereira precisou insistir muito com a Secretaria de Cultura. “Demorou três meses, insisti muito, cheguei a chorar. Fui todos os dias até eles enjoarem da minha cara e me darem o documento”, diz. “É muito sacrifício para o artista provar que faz arte. Com o documento você tem mais oportunidades, pode participar de exposições, fazer murais.”
“Quero muito mostrar o meu trabalho. Entro na internet e vejo pessoas do Brasil mesmo, ou até fora do país, com trabalhos bem simples, de iniciantes, ganhando prêmios. Eles são reconhecidos, mas eu fico para trás”, diz. “Quero justiça para os artistas brasileiros. O artista é muito excluído no Brasil.”
Desestimulado com a falta de oportunidades, ele diz que já pensou em abrir mão do talento. “Já tentei desistir, disse que não ia trabalhar mais com isso. Existe também muito preconceito por conta do meu estilo, do meu jeito de ser, por não participar de exposições com pessoas que tem diplomas na Grécia, em Roma”, diz. “Mas é uma arte milenar, uma das artes mais ricas do mundo. Guardar esse dom e não utilizar, é desperdício.”
Apesar de sonhar com o reconhecimento, Pereira diz que gosta muito do trabalho, e que tem outros dois talentos: também trabalha como pintor e serralheiro. “Muitos na obra dizem: ‘Você é um artista, sai daqui’. Mas eu gosto de trabalhar, gosto do trabalho manual, de estar me movimentando. Quanto mais difícil, mais gosto.”
O pedreiro diz que, para conceder a entrevista ao G1, foi dispensado pelo chefe durante o dia na obra em que trabalha. “Ele me incentivou, disse que o mundo precisa ver o que faço”, diz.
FONTE: G1
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