sexta-feira, 14 de setembro de 2012

UM MUSEU PARA VER, OUVIR E SENTIR NA PONTA DOS DEDOS

Por: » BENEDITO RAMOS – escritor e membro da AAL.
Talvez tenha sido a baixa visão que me acompanha nos últimos seis anos, a razão de me empenhar tanto para promover a acessibilidade no Museu de Tecnologia do Século 20. O projeto ganhou a credibilidade do Ministério da Cultura, por meio do Instituto Brasileiro de Museus, e foi aprovado. A gestão não foi tão fácil. Promover a acessibilidade em nossa cidade exige determinação. Os fornecedores, simplesmente, não existem no comércio regional. O assunto é um bicho de sete cabeças. Foi a internet a grande salvadora do empreendimento. Tomando, é claro, todas as precauções, conseguimos comprar cada item do plano de trabalho. 

O museu será reinaugurado durante a comemoração nacional da Primavera dos Museus e, também mês de aniversário dos 146 anos da Associação Comercial de Maceió, com dois primeiros visitantes: o presidente e o vice da Associação de Cegos de Alagoas, que desde o início estiveram presentes na empreitada, com detalhes que só eles sabiam. Esta não foi apenas uma parceria, mas uma amizade com a entidade, onde o setor cultural da Associação Comercial pretende, em futuro bem próximo, ampliar as relações de acessibilidade. 

Com o acervo contextualizado em braille e seu circuito em piso podo tátil, o museu recebe o visitante em cada sala com descrição também em braille. Para aqueles que não conhecem a linguagem tátil, quatro computadores estarão disponíveis, um deles com sintetizador de voz. 
 
Vencer as barreiras da deficiência visual é um esforço que precisa ser compartilhado com a sociedade de modo geral. Não é segurando o braço ou conduzindo o indivíduo que se resolve o problema, mas com a infraestrutura necessária a permitir a acessibilidade com independência. Isto é inserção social. O deficiente visual precisa ser encorajado a andar por calçadas acessíveis, atravessar ruas com sinais sonoros e ir e vir sem dificuldade. Estas ações precisam ser menos políticas e mais pragmáticas. 

É preciso criar condições de igualdade, convivência e independência para o deficiente visual, permitindo sua ascensão intelectual, profissional e de lazer, promovendo a sua ampla participação na sociedade. E isto só ocorre quando lhe é permitido andar livremente, ir a uma escola, usar um computador, aprender braille e ter disponível uma biblioteca próximo. Quantos neste país são privados destes direitos?Ainda hoje não temos estatísticas das causas da cegueira no Brasil. Algo para se pensar. 
Acesso em 14/09/12

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