Por Ramon de Souza
Se você trabalha com fotografia – ou é um amante dessa arte –, certamente já ouviu falar dos gráficos MTF, utilizados sobretudo na hora de detalhar as características de uma lente. É de conhecimento popular que, quando o assunto é DSLRs (Digital Single-Lens Reflex, conhecidas pela maioria do público como câmeras profissionais), as lentes possuem um trabalho mais importante para a composição de uma boa fotografia do que o corpo de uma máquina fotográfica em si.
Contudo, com centenas e mais centenas de modelos, qual lente escolher? É nessa hora que felizmente podemos contar com a ajuda dos gráficos MTF. Embora esses sejam cada vez mais populares, a grande maioria da população que os cita sequer sabe lê-los ou ao menos o que representam e qual sua importância para analisar se um equipamento fotográfico é de qualidade ou não.
Gráficos MTF de lentes Olympus (Fonte da imagem: Reprodução/Olympus)
Afinal, o que são gráficos MTF?
MTF é a sigla para Modular Transfer Function (termo que pode ser traduzido como Função de Transferência Modular). Primeiramente, é preciso saber que modulação, em palavras simples, é o processo de modificar um sinal; no caso, entendamos que tal sinal é a luz. Em teoria, o ideal seria que uma lente fotográfica transmitisse ao sensor nada menos do que 100% da luz que passasse por ela, mas não é o que acontece na prática. Nenhuma lente é perfeita, logo, há perdas no processo em que o dispositivo molda a luz até que esta chegue ao sensor da câmera.
Gráficos MTF representam o desempenho de uma lente ao transmitir luz até o sensor da câmera (Fonte da imagem: Reprodução/PhotoCamera Passion)
Podemos concluir então que os gráficos MTF servem para descrever, em imagem, como a luz é modulada pela lente, mostrando quanto, como e em que momento o sinal é afetado ao passar pelos componentes fotográficos.
Resumindo ainda mais, MTF é basicamente uma forma gráfica de medir a performance de uma lente estudando de que forma ela consegue captar a luz e levar esta até o sensor de uma câmera DSLR.
Medida de contraste
Mas antes de entender como lemos um gráfico MTF, é essencial que entendamos bem como é medido o fator de contraste de uma lente.
Engenheiros ópticos utilizam LP/mm (Lines per millimeter, ou Linhas por milímetros) como medida para avaliar contrastes. No diagrama abaixo, você pode entender melhor comparando diversos gamas de contraste.
Diagrama de teste de lente em LP/mm (Fonte da imagem: Reprodução/Norman Koren)
Perceba que uma série de linhas pretas e brancas possui um melhor contraste quando há maior espaçamento entre as cores, já que também há mais espaço para a transição destas. Quando as linhas são menores, as cores quase não possuem transição e praticamente se misturam.
Estrutura de um gráfico MTF
Agora que entendemos a importância e a medição do fator contraste, estamos finalmente prontos para começar a ler um gráfico MTF. Como exemplo, utilizaremos o gráfico abaixo, que é de uma lente Canon 100mm f/2.8 Macro.
MTF de uma Canon 100mm f/2.8 Macro (Fonte da imagem: Reprodução/Canon)
Primeiramente, entenda que os números do eixo vertical representam a quantidade de luz que passa através das lentes, em porcentagem (sendo que 0.1 significa 10% e 1 significa 100%). Muitos experts em fotografia consideram que, para uma lente ser considerada “boa”, ela precisa conseguir passar ao menos 60% da luz (0.6), enquanto um equipamento que passe acima de 80% (0.8) é considerado top de linha.
Já os números do eixo horizontal representam o comprimento focal. Enquanto 0 representa seu centro, 20 representa 20mm de dentro para fora da lente. Como todas as lentes, esta que estamos utilizando de exemplo perde nitidez em relação à proximidade de sua borda, e isso é demonstrado pela curvatura das linhas em direção ao lado direito do gráfico.
Tipos de linhas
As várias linhas demonstram a medição da lente em diversas circunstâncias. As linhas grossas representam o desempenho da lente em 10 linhas por milímetro, medindo o fator de contraste. Já as linhas finas exibem a performance da lente com 30 linhas por milímetro, medindo a resolução e a nitidez.
Já na questão das cores, as linhas azuis são testes com o diafragma aberto ao máximo, enquanto as pretas (ou outras cores como vermelho, depende do fabricante) são testes com a lente em f/8 (na maioria das vezes). Há ainda as linhas sólidas (que medem a área de foco) e as linhas pontilhadas (medição da área fora de foco), úteis principalmente para determinar o quão agradável será o efeito bokeh da foto tirada com a lente analisada.
Efeito bokeh (áreas distorcidas e desfocadas) (Fonte da imagem: Reprodução/Bokeh Effect)
Algumas regras básicas
Agora, estudando o gráfico mais uma vez, podemos entendê-lo um pouco melhor ao definir algumas regras importantes e simples:
- Quanto mais alta estiver a linha grossa (10 LP/mm), mais alta é a capacidade da lente de reproduzir contraste.
- Quanto mais alta estiver a linha fina (30 LP/mm), mais nítida é a imagem fotografada com a lente.
- Quanto mais próximas estiverem as linhas azuis e pretas, maior será o desempenho da lente quando estiver totalmente aberta.
- Quanto mais próximas estiverem as linhas sólidas e as linhas pontilhadas, melhor será o bokeh da lente.
Na prática
Abaixo, temos a comparação de duas lentes diferentes. Podemos utilizar seus respectivos gráficos MTF para analisar suas resoluções e contrastes. Na esquerda, temos uma lente 135mm f/2.0, enquanto na direita temos uma 18-55mm f/3.5 em 18mm. Ambas são Canon.
Lente 135mm f/2.0 (esq.) contra lente 18-55mm f/3.5 em 18mm (dir.) (Fonte da imagem: Reprodução/Canon)
Observe que as linhas da 135mm são muito similares, o que significa que a lente é bastante consistente no que diz respeito à passagem de luz em diferentes circunstâncias. Todas as linhas estão localizadas em pontos altos do eixo vertical, o que sugere que o equipamento possui contraste e nitidez muito bons – ou seja, é uma lente excelente.
Agora compare com a 18-55mm em 18mm. Naturalmente, lentes que possuem zoom perdem luz e qualidade devido às suas construções mais complexas, e isso pode ser observado no gráfico. Além das linhas estarem mais baixas, todas as características analisadas perdem pontos quanto mais próximas elas estiverem das bordas da lente.
Apesar de termos utilizado tais equipamentos para fins comparativos, vale ressaltar que gráficos MTF geralmente são utilizados para comparar lentes com distâncias focais semelhantes.
Lentes Olympus de diferentes distâncias focais (Fonte da imagem: Reprodução/Eyekon Photo)
Limitações dos gráficos MTF
Contudo, é importante continuar tendo em mente que um gráfico MTF não diz absolutamente tudo sobre uma lente. Há aspectos importantes que não podem ser analisados por esse método (como vinheta, distorção, resistência ao efeito flare etc.).
Contudo, tais gráficos são muito úteis para comparar contraste e nitidez de duas ou mais lentes na hora de fazer sua compra – embora muitas fabricantes dificultem esse processo ao não disponibilizar gráficos MTF de seus produtos ou utilizar diferentes métodos de teste para elaboração destes.
Fonte: http://tecmundo.com.br/como-fazer/33679-fotografia-como-interpretar-um-grafico-mtf.htm Acesso em 07/12/12.
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