"Eu sou Europa, nós somos Europa". Mais do que um slogan, uma ideia de convivência, solidariedade e partilha, susceptível de ser posta em discussão pela vaga crescente da crise que arrastou consigo os princípios europeus dos Pais Fundadores. O que dita a agenda hoje não é o sentido da união, mas a crise, que se tornou a palavra mais frequente, não só entre as pessoas, mas sobretudo entre as Instituições. Porque a crise não é um conceito, mas uma realidade que tem impacto sobre a vida diária de mais de 500 milhões de cidadãos europeus.
Mesmo assim, a Europa reagiu, embora lentamente, colocando no campo as suas melhores forças e construindo uma barreira de intervenções, embora porventura demasiadamente centrada numa arrojada visão "puramente" económica. Tudo isto à custa dos cidadãos, sobre os quais a crise se repercute como um terramoto, criando gravíssimas consequências sociais. Isto transforma-se em falta de equidade, e numa crise que, mais do que económica, se torna crise de confiança, com o risco de uma progressiva separação entre Instituições e cidadãos. E o maior perigo é que o próprio sistema social europeu, verdadeiro modelo para o mundo inteiro, corre o risco de morrer. Onde estão os direitos básicos? Onde foi parar o sentido de solidariedade? O que será feito da Europa?
Os analistas estão quase todos concentrados nos dados económicos. 2013 constituirá o ano da mudança; só a partir de 2014 se começará a crescer novamente. Por outro lado, crescem os projectos de "micro-crédito", para financiar iniciativas de pequena escala capazes de relançar a base. Aposta-se no intercâmbio de bens para permutar géneros de primeira necessidade. Acontece sobretudo na Grécia, mas também noutros países, como a Espanha, Eslováquia, Itália, e mesmo, recentemente, na França.
Métodos de intervenção em linha com o que se disse também na COMECE - as Conferências Episcopais da Europa, que propõe como receita para a crise um "modelo europeu de economia social de mercado", para oferecer uma protecção eficaz aos mais vulneráveis. E isto porque a crise é também ético - cultural, e portanto antropológica. Quem o diz é o Conselho das Conferências Episcopais da Europa, segundo o qual não se pode pensar em dialogar com o mundo apenas abordando os problemas; há que enfrentar também os pressupostos culturais dos mesmos problemas. Estas intervenções indicam as necessárias raízes de solidariedade; raízes que estão interligadas com outras raízes, as raízes cristãs, que uma Europa distraída deixou sem água e agora correm o risco de morrer. Ah, se os europeus tivessem assumido como própria a mensagem emersa da Encíclica "Caritas in Veritate"! Nela, Bento XVI lançou uma luz muito além do limite do horizonte, sublinhando com forte ênfase que há que procurar a verdade e exprimi-la na "economia" da caridade, mas esta por sua vez deve ser compreendida, valorizada e praticada à luz da verdade. A Europa pode recomeçar a partir deste conceito. E todos nós poderíamos dizer com orgulho: "Eu sou Europa, nós somos Europa."
Salvatore Sabatino
Fonte: Rádio Vaticano
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