Postado por Juremir Machado da Silva em 20 de janeiro de 2013 - Sociedade do Espetáculo
Escrevi que o rock começou a morrer com a morte de Janis Joplin, a cantora emblemática de um espírito, de uma atmosfera, de uma revolução.
Alguns leitores ficaram indignados e dispararam os clichês corretivos.
Garantiram que o rock está vivo e que tem muita banda boa por aí, dando Porto Alegre como exemplo dessa imortalidade roqueira.
O rock morreu é uma fórmula que exige análise de discurso.
A morte sempre deixa seus fantasmas, sombras que andam muito tempo depois da extinção do corpo com relativa autonomia e alguma criatividade.
O rock foi uma revolução.
Um imaginário.
Nenhuma das bandinhas que andam por aí, mesmo quando são boas, inventará um imaginário capaz de igualar Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Daria para citar Bob Dilan e mais alguns mitos.
Essa revolução já se completou.
Ela ajudou a mudar a mundo.
Mas, como tudo, foi engolida pela voragem do tempo, pela ideologia da novidade e por uma superação do seu objeto: a rebeldia.
O rock, no fundo, foi sempre contracultura, mesmo antes de ser conceitualmente, utopia e sociedade, como dizia o outro, o maluco, alternativa. Estamos noutra era, uma era na qual o rock é apenas música, nostalgia ou divergência para poucos, muito poucos, sempre menos, vestígio.
O rock, como revolução e imaginário, teve uma dinâmica viral.
Espalhava-se na velocidade da explosão mental.
A contracultura morreu.
O rock não poderia sobreviver a ela.
Não há mais resistência aos padrões do chamado “sistema”?
Claro que há. Mas o rock não é mais a sua expressão principal.
De certa maneira, claro, o rock viverá para sempre: como um espectro.
Encontrei meu colega Carlos Gerbase, roqueiro, nos bons tempos, de “Os Replicantes”, e comentei sobre a morte do rock. Ele respondeu com a rapidez no gatilho de Django (estávamos lá para ver o filme de Tarantino):
– O rock morreu faz tempo!
Comentei o mesmo com Eduardo Bueno, o Peninha, que também estava lá para ver Tarantino (tudo mundo estava lá, o Sérgio Ludke e a Cacá, o Gerbase e a Luciana, o Peninha e a Paula, o Fernando Malheiros e a família, eu e a Cláudia, a Rose, a Lívia, o Sérgio Teixeira e mais uma sala cheia).
O rock é como Django: uma lenda viva.
Cada um pode reinventá-la.
O original, porém, aquele que dá aura ao fenômeno, ficou nos anos 60.
Dizer que o rock morreu não representa necessariamente ficar parado no tempo louvando uma época de ouro da cultura ou da contracultura.
Não admitir a morte do rock, como potência comportamental revolucionária, é que significa essa parada no passado, esse apego ao que radicalmente se foi.
O resto é mimimi.
Está faltando um Tarantino do novo rock.
Fonte: Correio do Povo
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