quinta-feira, 9 de maio de 2013

Obsessão


Chovia uma chuva fina, ela andava calmamente, a roupa colava ao corpo. A chuva disfarçava as lágrimas. Sim, ela chorava, as lágrimas molhavam mais o seu rosto do que a chuva, Ela pensava insistentemente em como ele poderia tê-la trocado assim, simplesmente, por uma mulher tão tudo aquilo que ele dizia não gostar. Era chata, pegava no pé, ligava o tempo todo e ele estava louco por ela.

Chegou em casa pensando que precisava lavar o corpo, a alma, colocar a os sapatos para secar e seu coração precisava bater menos por ele.

Debaixo do chuveiro as lágrimas não paravam, secava o corpo e o rosto encharcado, inchado, triste olhando sem olhar, só enxergava lá dentro e lá estava uma bagunça. Era ele ali, impregnado da cor do seu cabelo, dos olhos, do cheiro da pele, do sexo, todo ele estava lá.

Exausta ela adormeceu, acordou de madrugada, na verdade o sol nem havia despontado no horizonte. Levantou doída, por dentro e por fora, dormira mal acomodada, mal amada, não querida, só.

Olhou-se no espelho e pensou: preciso dar um jeito nessa cara, Arrumou-se com cuidado, maquiagem, cabelo, escolheu a melhor roupa, saltos, enfim, aguardou o tempo passar. Sabia exatamente a hora em que ele estaria lá, naquele lugar,

Olhou-se mais uma vez no espelho, passou perfume e saiu. O coração acelerou, mas os passos levavam um corpo que parecia esguio, forte, inabalável. Passou por ele e fez que não viu, não sentiu. Ergueu a cabeça, seguiu em frente e foi desmoronar na outra esquina.

Assim passaram-se os dias, meses, anos. Tudo igual. Ele com a outra ela e ela ali passando firme e forte para à noite, no silêncio do seu quarto, deixar as lágrimas de saudades e de baixo amor escorrer, molhar o travesseiro.

Eles nem mais se reconheciam, ele havia firmado laços em outros braços. Ela ali, indiferente ao tempo que ia passando, às oportunidades de um novo amor, tudo passava liso, só não acabava aquele sentimento de perda que era tudo o que ela tinha para viver, Bem vestida, às vezes até sorrindo, passava com o coração na mão.

 Talvez todos percebessem, ou quem sabe ela escondesse tão bem aquele sentimento que ninguém nem ela mais tinha conhecimento ou domínio sobre ele. Já era uma obsessão.



Vice-Presidente do IPMF

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