terça-feira, 10 de setembro de 2013

Jornais demitem fotógrafos e leitores não notam

Por Carlos Castilho em 05/09/2013
No fim de maio, o jornal Chicago Sun-Times demitiu todos os seus 28 fotógrafos, iniciando um processo que já contaminou pelo menos mais cinco outros jornais norte-americanos nos últimos dois meses. O mais impressionante de tudo é que raríssimos leitores reclamaram contra a queda de qualidade depois que os profissionais foram substituídos por fotos amadoras, obtidas em sites como Flickr, YouTube, Facebook e Google Images.
Esta é talvez uma das mais tristes constatações resultantes das políticas de redução de despesas adotadas pela maioria dos jornais impressos ao redor do mundo. O caso dos fotógrafos e também dos repórteres e editores de texto revela a incapacidade do estilo tradicional de fazer jornais de resistir ao avassalador crescimento de fotos e textos amadores, apoiados em tecnologias baratas e onipresentes na sociedade contemporânea.
Conforme um relatório da empresa de consultoria KPCB, dos Estados Unidos, diariamente são publicadas 530 milhões de fotos nos sites Flickr, Instagram, Facebook e Snapchat, em sua esmagadora maioria feitas por amadores. Trata-se de um aumento de 10 mil por cento em relação aos totais registrados em 2007. Nada cresceu tão rápido na história das comunicações quanto a publicação de fotos digitais.
Os dados da KPCB mostram que os repórteres cinematográficos também estão ameaçados de extinção porque só no YouTube são publicados 100 horas de novos vídeos por minuto, dez vezes mais do que em 2007. Isso quer dizer que diariamente o acervo de vídeos do YouTube recebe mais 144 mil horas de novas imagens.
Até agora, a principal arma de fotógrafos e cinegrafistas contra o desemprego era a qualidade técnica do material que produzem, mas este argumento já não resiste mais à luta dos jornais e revistas impressas para escapar do fantasma da falência. Acreditando num improvável milagre, os jornais apostaram na opção por fotos amadoras baixadas da web para ilustrar o dia a dia da notícia – e com isto reduzir a folha salarial.
Os profissionais esperavam uma rebelião de assinantes e leitores pagantes, mas nada de radical aconteceu. Como a novas tecnologias reduziram consideravelmente a margem de erro no ato de fotografar, e como o software Photoshop corrige o material que não está dentro dos parâmetros mínimos de qualidade, pouca gente notou a mudança, como prova o blog que monitora a qualidade fotográfica das primeiras paginas do Chicago Sun-Times.
Mesmo pagando direitos autorais por fotos publicadas em bancos de dados de imagens, isso fica quase 50% mais barato para os jornais do que manter o salário de profissionais. É uma lógica perversa, baseada apenas na frieza dos números, e não há como culpar os jornais por estarem tentando sobreviver. É todo um modelo que está em transição e cujas consequências não afetam apenas os que perderam emprego, mas também a todos nós, consumidores de informações.
Tão preocupante quando a ameaça de extinção que pesa sobre os repórteres fotográficos é a intensificação da migração de jornalistas profissionais para o marketing. Segundo o escritório de estatísticas sobre empregos nos Estados Unidos, o BLS, o efetivo total de profissionais empregados no marketing cresceu 75% desde 2000, enquanto o de jornalistas caiu 25% e vai baixar ainda mais – chegando a 31%, até 2020. A área de oferta de empregos do site CraigList mostra que em junho passado, na região de Nova York, havia 1.022 vagas para especialistas em marketing, 887 para relações públicas e 198 para atividades relacionadas ao jornalismo.
Essa migração rumo ao marketing mostra que o tipo de informação que passa a ser oferecida ao público está cada vez mais influenciada por interesses comerciais, políticos, religiosos e corporativos. Mais do que nunca, passa a ser essencial separar a informação de interesse social da notícia associada a alguma iniciativa de marketing. Nada contra o marketing, que é uma atividade tão digna quanto o jornalismo, só que não dá para confundir as duas, porque há o risco de induzir os consumidores de informação a tomar decisões equivocadas.

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