segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Primeiro fim de semana de Bienal registra milhares de visitas

Uma obra foi interditada pelos organizadores. Interação do público com obras marca esta edição da mostra

Primeiro fim de semana de Bienal registra milhares de visitas Mauro Vieira/Agencia RBS
Gilmar, Andréa e a filha Joanna observam a Bat Cave do artista Tony SmithFoto: Mauro Vieira / Agencia RBS
O primeiro fim de semana da 9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre confirmou a vocação da mostra para proporcionar a interação do público com a arte. Favorecidos pelo clima de temperatura amena, milhares de visitantes foram até a Usina do Gasômetro, o Santander Cultural, o Margs e o Memorial do do Rio Grande do Sul.
A interação com os trabalhos expostos foi tanta que chegou a extremos indevidos. No sábado, a obra de Cinthia Marcelle Viajante Engolido pelo Espaço – um grande tapete vermelho formado por pó de ferrugem e terra instalado no chão do Memorial – foi pisoteada por um frequentador. Segundo informações da segurança do local, um senhor de cabelos brancos avançou sobre o material e deixou pegadas de sapato antes de recuar.
– Ele ficou nervoso, se desculpou e disse que só queria ir ao banheiro, que não tinha visto que era parte da mostra – explicou uma funcionária.
Em outros espaços, porém, a interação era não apenas permitida, como bem-vinda. O terraço do Gasômetro, coberto por grama artificial para receber confortáveis cadeiras, se tornou um convite para o descanso, a contemplação da orla e o convívio. Nesse espaço também são realizadas performances como a chamada Regiões sem Sinal, de Tarek Atoui, que transmitiu por alto-falantes sons modificados com o uso de equipamentos.
– Ficou um ótimo espaço para ver e curtir Porto Alegre. Conecta a comunidade com a arte e com a cidade – afirmou a professora de inglês Patrícia Lampert, 35 anos.
Labirinto Invisível, uma das obras que mais chamavam a atenção, foi interditada. A instalação, localizada no Margs, fazia soar um alarme quando alguém atravessava um facho de luz refletido por espelhos. Um peixe que ficava no centro da instalação começou a ficar atordoado devido ao ruído e precisou ser retirado. Com isso, a obra foi colocada "em manutenção".
A 9ª Bienal apresenta uma seleção de mais de 60 artistas até 10 de novembro.
Grama artificial, cadeiras e ruídoO terraço transformado em espaço de descanso e convívio no Gasômetro reuniu um grande número de visitantes. Sobre as cadeiras instaladas no local ou deitados diretamente na grama artificial, os frequentadores aproveitaram para pegar sol, olhar o céu e até tirar um cochilo, como o arquiteto e urbanista Fábio André Rheinheimer. Ele era um dos mais entusiasmados com a iniciativa.
– Este espaço é impecável, parece até que estou em Nova York. E é algo tão simples, de estímulo à socialização, e tão fácil de manter, que não sei por que não havia sido feito antes – vibrou Rheinheimer.
O ambiente também serviu para eventos como a "performance sonora" do artista do Líbano Tarek Atoui Regiões sem Sinal. Utilizando como base sons gravados na Ilha das Pedras Brancas, ele alterou os sinais captados para produzir uma série de outros ruídos – alguns intensos a ponto de fazer algumas pessoas da plateia taparem os ouvidos. A fisioterapeuta Aline Vignochi, 38 anos, gostou:
– O ruído atordoa, mas também nos deixa mais atentos.
O marido, o professor Ivan Garrido, não gostou tanto:
– Sou muito racional para analisar uma coisa dessas.
Passeio no interior da cavernaA Bienal tem opções na medida para as crianças. Uma delas é a Bat Cave, ou Caverna do Morcego, escultura de Tony Smith formada por peças de papelão e localizada no Margs. Como a montagem das 4,8 mil partes da estrutura deixa espaços vazios internos que permitem a circulação por dentro dela, a imaginação se deixa levar.
– Parece um labirinto – entusiasmou-se Joanna dos Santos, de 10 anos.
O pai da menina, o publicitário Gilmar Pinheiro dos Santos, 43, deu outra interpretação ao conjunto de blocos:
– Me lembra uma colmeia.
A intuição de Santos estava correta. A escolha pelo papelão teve entre suas razões a textura e a coloração semelhantes a um ninho de vespa. A mãe, Andréa Bonne, 43, destacou outro aspecto importante da obra: graças ao interesse despertado por ela, pela primeira vez a filha estava visitando o Museu de Arte do Rio Grande do Sul.
Biólogo Gustavo Piccinini na instalação de Aleksandra Mir
Foto: Mauro Vieira
Um satélite difícil de encontrarUma das atrações mais curiosas desta edição da Bienal, a gigantesca simulação da queda de um satélite na orla do Guaíba idealizada pela artista polonesa Aleksandra Mir reunia um número modesto de espectadores no meio da tarde de sábado. Talvez fosse em razão da força do sol que por vezes aparecia entre as nuvens, já que a instalação fica a céu aberto. Mas o local também é um pouco difícil de ser achado. O biólogo Gustavo Piccinini, 30 anos, se esforçou para encontrar o ponto certo da queda fictícia da geringonça que combina destroços industriais de empresas da região.
– Não vi nenhuma sinalização, nenhuma placa. Cheguei porque vi uma reportagem e procurei o local até achar – afirmou o biólogo, que estava de bicicleta.
Além dele, havia na área um casal e um grupo de amigos. Uma integrante do grupo explicava aos demais um dos significados da obra que reúne materiais como reservatório de combustível, ventiladores de teto, luminárias e outros itens:
– Ela (a autora) quis chamar a atenção para a obsolescência programada, para as coisas que são feitas para durar pouco e virar sucata como isso aqui.
Instalação Musa da Lama
Foto: Mauro Vieira
A hipnose das bolhasA interação do público com uma das obras mais peculiares da Bienal ocorre quase sempre de duas formas: ou se é atingido por gotas da lama que borbulha num tanque de 2,7 por 3,6 metros, ou se avança e se recua à mercê do receio de ser atingido pelo lodo. Em qualquer caso, a combinação da visão das bolhas produzidas por um sistema de válvulas de ar com o som que elas fazem ao estourar provoca efeito cativante nos visitantes da obra de Robert Rauschenberg, no Santander.
– A visão das bolhas é interessante, e o som também. É uma coisa hipnótica – afirmou a professora Fernanda Kauer, 30 anos, acompanhada da colega de trabalho Letícia Zimerman, 20.
Rauschenberg desenvolveu a chamada Musa da Lama em parceria com uma empresa que desenvolveu projetos para a Apollo 11 – nave que levou o homem à Lua.
Fonte: Zero Hora


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