MEMORABILIA
Termo latino que significa literalmente “coisas que servem para serem lembradas” e que entra na literatura a partir do momento em que se torna necessário recordar, recolher ou editar obras de autores antigos, cuja produção literária se recupera por via da memória. De aplicação variada, podemos dizer que tudo o que teve um significado importante para um sujeito pode ser recuperado numa memorabilia, ou recolha de memórias, experiências pessoais, obras realizadas, conhecimentos adquiridos, etc. que de alguma forma nos marcaram. Sobre Sócrates escreveu Xenofonte uma Memorabilia (Loeb Classical Library, Oxford,1991), cujo título significa literalmente “o que se mantém na memória”. A versão latina consagrou o título Memorabilia Socratis dicta, ou sejaDitos memoráveis de Sócrates, que regista mais aspectos de natureza mundana da vida de Sócrates do que especulações sobre a sua filosofia.
O género literário que corresponde a toda a literatura de memórias, isto é, a todas as formas de recuperação imaginária do passado, tem o nome dememorialismo, que pode incluir obras tão diversas como Os Últimos Dias de Alexandre Herculano (1880), de Bulhão Pato, Mémoires d'une jeune fille rangée(1958), de Simone de Beauvoir, Memórias de Viagem: Um olhar europeu sobre o Portugal do século XVIII: A European View of the 18th Century Portugal —Travel Memoirs [Festival dos Oceanos 2000], textos Nuno Saldanha, João Paulo Ascenso Pereira da Silva, Isabel da Cruz Lousada, ou romances históricos como Mémoires d’Hadrien (1951), de Marguerite Yourcenar, Mémoires d'Agrippine (1992), de Pierre Grimal, ou Memórias de Agripina (1993), na versão de Seomara da Veiga Ferreira. O recolher de dados da memória para serem transformados em literatura tanto pode ser conseguido com um espírito historiográfico, mergulhando através de dados registados no passado, e agindo como um instrumento de alteração e recriação imaginária ou factual desse passado, para além da sua simples reconstrução e preservação, como pode produzir a modificação do passado, como forma de crítica a factos ou comportamentos que se julgam merecedores de uma revisão judicativa.
Bibliografia
Marjorie Bard: “Of Memories, Memorabilia, and Personal Narratives: Life Events in Introspect and Retrospect”, Folklore and Mythology Studies, 10 (1986)
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