Coleção Itaú da arte fotográfica modernista será exposta, a partir das 19h, no Museu de Arte Contemporânea
No Brasil, os foto-clubes serviram de porta de entrada da fotografia para o espaço da arte. A história é contada pelo fotógrafo Iatã Cannabrava, curador da mostra "Moderna para sempre - Fotografia modernista brasileira na Coleção Itaú". A exposição será aberta hoje, às 19h, nas salas do piso inferior do Museu de Arte Contemporânea do Ceará Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (MAC/CDMAC).
Imagens da mostra "Moderna para sempre - Fotografia modernista brasileira na Coleção Itaú", que abre, hoje, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará
Em cartaz até o fim de novembro, as imagens expostas fazem alusão às vanguardas artísticas, em especial, o abstracionismo e o surrealismo. A exposição reúne 86 imagens, clicadas por 23 fotógrafos, retratando importante momento da fotografia brasileira, quando a fotografia busca um diálogo mais íntimo com a pintura e outras expressões artísticas, como a arquitetura.
Redes sociais
"Foi neste momento que ela começou a caminhar com as próprias pernas", explica Iatã Cannabrava. Ele explica que o fotoclubismo, movimento iniciado na primeira metade do século XX, constitui o precursor, o protagonista da fotografia moderna brasileira.
Para Cannabrava, a fotografia é "um grande sistema de comunicação", citando as redes sociais digitais como o Instagram e o Facebook, afirmando ser o movimento do cineclubismo "a primeira grande rede social do mundo".
Unidade
Num misto de entusiasmo e amor pela arte da fotografia, o artista explica que a mostra detém uma unidade rara. Isto é, mescla o documento histórico com o belo. O material pertence ao Foto Cine Clube Bandeirante e à Escola Paulista, dois dos principais representantes do fotoclubismo brasileiro. "A mostra contou com a maior coleção e mais ampla da fotografia moderna brasileira". O artista visual fala um pouco sobre a localização histórica do movimento, que acontece por volta dos anos 1940, assim como os trabalhos apresentados, que estão inseridos até a década de 1970.
"Eles (os fotógrafos) estavam preocupados em não dar continuidade àquela situação que gerou duas guerras, escolhendo o caminho da estética, daí a forma ser mais importante do que o conteúdo", analisa Iatã Cannabrava. Esta foi a ideia central dos fotógrafos ao se organizaram em torno do fotoclubismo, a exemplo do Foto Cine Clube Bandeirante, criado em 1939. Organizados numa forma de associação, os artistas discutiam os novos rumos da fotografia no País. Havia o contexto político também da época, lembra Cannabrava, que possui uma visão bastante particular sobre a arte/ofício da fotografia.
Ofício
Na sua opinião, "todos os fotógrafos são, antes de tudo, portadores de um ofício" , diz, diferenciando das artes plásticas. Para ele, não existe fotografia, mas fotografias, enumerando algumas delas: documental, artística, jornalística. Hoje, a relação "tumultuada" entre e fotografia, como observam alguns críticos e historiadores, já foi superada, quando nos 1940, ela adentrou aos museus da cosmopolita Nova York. "As fronteiras são tênues", diz, afirmando que o papel da fotografia atualmente, na sociedade, é de operador um grande sistema de comunicação. A discussão não é mais se a fotografia é ou não arte, fato já superado, mas possibilitar "um filtro e construir narrativas".
A exposição, assim como foi o movimento do fotoclubismo, demostra a relação dos modernistas com os vários movimentos artísticos, destacando a arquitetura e a cidade moderna. Nesse aspecto, a fotografia pôde caminhar com a próprias pernas e escrever o seu nome no universo da chamada arte maior. A valorização da forma constitui aspecto destacado pelo curador, ao falar sobre a filosofia do fotoclubismo no Brasil. Outra discussão que considera superada é quanto às críticas de que a fotografia digital, ao contrário da analógica, com o negativo, não deixa rastro. "A prova é o autor", revela.
Nesse sentido, o fotógrafo é tão autor quanto o pintor, que dava como garantia a sua assinatura na obra. Cannabrava questiona, ainda, os documentos. "Quem os inventou?", Indaga, acrescentando que se fala muito em achar documentos. Mas quando se acha esses documentos, é preciso procurar saber, também, quem os inventou.
Depois de passar pelas cidades de Porto Alegre, Belém, Belo Horizonte e Ribeirão Preto, além de Assunção (Paraguai) e Cidade do México, as obras que compõem um recorte da Coleção de Fotografia Modernista Brasileira do Itaú, chega a Fortaleza. A novidade é que ganha mais cinco obras. Trata-se da inclusão de dois trabalhos do fotógrafo catalão, radicado em São Paulo, Marcel Giró (1913-2011) e três, do paulista Paulo Reis.
De acordo com Cannabrava, o movimento do fotoclubismo no Brasil começou por São Paulo, mesma que, em 1922 , realizou a famosa Semana de Arte Moderna. O ponto de partida foi o Foto Cine Clube Bandeirante, expandindo-se para outros foto clubes da cidade. Na composição, fotógrafos amadores que ousaram experimentar, uma vez que não realizavam trabalhos comerciais. O diálogo com as artes visuais, em especial com as vanguardas artísticas, sendo uma das mais importantes para esse interlocução, o surrealismo, possibilitou essa travessia da fotografia, que cria uma linguagem própria.
Merece destaque o trabalho do artista visual Geraldo de Barros (1923-1998), que integra a mostra, remanescente do Cine Clube Bandeirante. A singularidade de Geraldo de Barros diz respeito ao caminho que trilhou, chegando à pintura, depois da prática da fotografia. No caso, o abstracionismo que, no Brasil, foi representado pela arte concreta. Outros nomes surgiram desses nichos artísticos como José Yalenti e German Lorca, que integram a exposição. Muitos desses artistas começaram na pintura e vice-versa, tendo as pinceladas como referência.
Contexto
O movimento tinha como contexto econômico e social o Brasil dos anos 1950, marcados pelo desenvolvimento, sendo articulado o modernismo brasileiro. A maior parte dos integrantes dos foto clubes era de imigrantes, de origem europeia, como o catalão Marcel Giró, ou descendentes refugiados. O Brasil, assim como a América era visto como um lugar de novas possibilidades aos olhos desses imigrantes. Participam da exposição: Ademar Manarini, André Carneiro, Chakib Jabour , Délcio Capistrano, Eduardo Enfeldt, Eduardo Salvatore, Francisco Albuquerque, Francisco Quintas Jr., Georges Radó, Geraldo de Barros, German Lorca, Gertudes Altschul, Gunter E.G. Schroeder, João Bizarro da Nave Filho, José Oiticica Filho, José Yalenti, Julio Agostinelli, Lucilio Correa Leite Júnior, Marcel Giró, Osmar Peçanha, Paulo Pires, Rubens Teixeira Scavone, Tufi Kanji.
Mais informações:
Exposição "Moderna para sempre - Fotografia modernista brasileira na Coleção Itaú". Abertura às 19h, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Em cartaz até 24 de novembro, com visitação de terça a quinta, das 9h às 18h30, e de sexta a domingo, das 10h às 19h30. Gratuito. Contato: (85) 3488.8600
IRACEMA SALESREPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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