Elaine Patricia Cruz - Agência Brasil
São Paulo – Em 2008, o fotógrafo belga Pascal Mannaerts visitou a capital da Indonésia, Jacarta. Passando por um mercado, registrou a imagem de uma manequim, em primeiro plano, com adesivos cobrindo seus olhos, nariz, sobrancelhas e boca. No fundo da fotografia, destacou a imagem de uma mulher real, com os cabelos cobertos por um véu.
Três anos depois, visitando vários países da África, Mannaerts fez registros de mulheres carregando baldes de água na cabeça em Burkina Faso e de mulheres sorrindo ao participar de um ritual ukuli, na Etiópia.
Em um período de cerca de dez anos, Mannaerts viajou por vários países capturando imagens da mulher contemporânea. Os mais de 50 cliques feitos pelo fotógrafo belga estarão expostos a partir do dia 2 de março, na Caixa Cultural, no centro de São Paulo. A exposiçãoElas: Resistência e Feminilidade das Mulheres no Mundo pretende refletir sobre a visibilidade das mulheres em diferentes países, como vivem, se casam, sobrevivem e até como enfrentam as dificuldades para criar os filhos.
Em entrevista à Agência Brasil, a co-curadora e produtora da exposição no Brasil, Lilian Fraiji, contou que o interesse de Mannaerts pelo tema começou quando ele trabalhava no Departamento de Imigração da Bélgica. “Ele trabalhava como advogado, fazendo a parte da autorização da imigração. Com esse trabalho, passou a ouvir muitas histórias de imigrantes e se interessou muito por essas histórias de vida. Ele começou então a viajar pelo mundo fazendo o registro dessas pessoas”, explicou.
Mostrando os diferentes hábitos culturais, religiosos e sociais de cada país, Mannaerts retrata especificamente mulheres, principalmente aquelas que vivem em países ou comunidades que enfrentam graves problemas de miséria e de exclusão social. Nesse trabalho, ele notou que, independentemente de classe social, muitas mulheres são vítimas de violência (física, moral, sexual e psicológica) e enfrentam dificuldades de acesso ao trabalho, à geração de renda, à educação e à participação política.
A ideia do fotógrafo era não se limitar a um trabalho etnográfico e documental, mas enfatizar o fortalecimento da autoestima e o empoderamento das mulheres. “Essa exposição foi um grande desafio para a gente porque não queríamos mostrar as mulheres como vítimas. Só que a realidade não é essa. A realidade é que a mulher sofre um problema sério de violência em todo o mundo. Independentemente do país, a mulher ainda sofre uma série de problemas sociais, tendo que lutar pelas condições mais básicas e primordiais”, disse a co-curadora.
“Precisamos olhar a mulher por meio da realidade em que ela vive e do contexto em que ela está inserida. Independentemente do país, ela ainda sofre muita discriminação e isso é coisa inadmissível em pleno século 21. Queremos reverter esse olhar. E a transformação começa quando identificamos que existe o problema. Essa exposição traz uma série de dados para atestar essa situação que as mulheres vivem hoje. E, a partir dessa identificação, tentar transformar essa realidade”, acrescentou Lilian.
O fotógrafo deve vir ao Brasil para o encerramento da exposição. A expectativa é que em sua primeira vinda ao país ele faça também registros das mulheres brasileiras – o que poderia compor uma nova exposição.
Além das fotos, a exposição também vai apresentar uma instalação sonora, idealizada pela dupla Carol Misorelli e Marilia Scharlach, como parte do Projeto Clementinas. Na instalação, elas reúnem vídeos e áudios de mulheres que são grandes líderes e figuras importantes para mudanças sociais em seus países. A instalação será inaugurada no dia 8 de março, como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher.
A entrada é gratuita e a mostra poderá ser visitada até 28 de abril. Mais informações podem ser obtidas no site da Caixa Cultural.
Edição: Lílian Beraldo
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
- FONTE: Portal EBC
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