Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."
Florbela Espanca (1894-1930)
Poetisa portuguesa de imensa capacidade dramática. Estudou letras e cursou direito. Casou-se por três vezes e sempre deu sinais de desequilíbrio, o que em nada comprometeu a qualidade de sua poesia, sempre intimista e arrebatadora, forte, erótica, intensa e de uma beleza particularmente tocante.
Florbela suicidou-se no dia em que completaria 36 anos.
É dela este poema, intitulado Fanatismo, que, depois de musicado, fez sucesso no Brasil com o cantor Fagner.
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