Estreia hoje a exposição "Ocupação - O grafite no Mauc", que integra a programação do V Fes- tival UFC de Cultura
A partir de hoje, 17 painéis criados por 18 artistas de rua do Coletivo Grafite CE ficam expostos no Museu de Arte da UFC, na Avenida da Universidade, até o dia 31 de outubro. O Coletivo conta atualmente com 170 integrantes
A partir de hoje, 17 painéis criados por 18 artistas de rua do Coletivo Grafite CE ficam expostos no Museu de Arte da UFC, na Avenida da Universidade, até o dia 31 de outubro. O Coletivo conta atualmente com 170 integrantes
FOTO: IGOR GRAZIANNO
As paredes das quatro salas de exposições temporárias do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) trocaram a sobriedade da cor branca pela irreverência do grafite. Pelo menos de hoje, quando às 17h, acontece a abertura da mostra "Ocupação - O grafite no Mauc", até o dia 31, quem visitar o espaço vai se deparar com 17 painéis criados por 18 artistas de rua que integram o Coletivo Grafite CE, formado por grafiteiros da Capital, Região Metropolitana de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral.
A exposição faz parte da programação do V Festival UFC de Cultura, que tem como tema: "Pão, Modernismo e outras Revoluções na Arte Brasileira". Os grafites mesclam elementos dos dois movimentos artísticos, como a valorização dos elementos da cultura brasileira, mas sem perder de vista as referências contemporâneas, resultando num mundo de cores, figuras e formas que mais do que colorir as paredes do Mauc, provocam uma reflexão: qual o lugar da arte? A rua, as paredes dos museus ou os dois locais?
Vivência
Reflexões à parte, o que pode ser observado é que, aos poucos, esse diálogo entre arte/cidade/instituições vem sendo estreitado. Prova disso é o Mauc receber, pela primeira vez, uma exposição dessa linguagem artística usada também como uma forma de inclusão social, como afirma um dos integrantes da mostra, David Viana, há 18 anos lança mão ao spray.
Inicialmente, dos nove aos 16 anos como pichador. "Naquela época a gente tinha uma ideologia", conta, afirmando deixar sempre uma mensagem, o que não acontece atualmente. A primeira crew (galera) que integrou foi a "Paridos pelo Caos", passando em 2005 a fazer parte do Coletivo Grafite CE que conta atualmente com 170 integrantes. "O sonho de qualquer grafiteiro é expor em um museu", afirma David Viana, comparando a participação na mostra ao "prêmio Nobel de um grafiteiro". "Para quem começou pichando muros, para nós é uma vitória", revela.
Dos tempos de pichações, guarda uma cicatriz e a marca de um tiro que levou na perna. Mas foi escalando muros, nas caladas da noite, que David Viana adquiriu a habilidade de manusear o spray, pode ser considerado o pincel do grafiteiro, o artista dessa arte considerada nova.
"No Ceará, ela tem entre 18 e 20 anos", arbitra, afirmando que os desenhos devem expressar sentimentos, mas levam em consideração elementos contemporâneos.
"Não basta querer ser grafiteiro, é preciso saber dominar a lata do spray", orgulha-se, completando que grande parte dos artistas vêm da pichação. "O spray sai num jato, daí ser importante saber dosar os traços. É difícil", argumenta, admitindo ser diferente do uso do pincel. Assim é mais complicado preencher um espaço vazio usando o jato do spray, bem como a mistura de cores até se chegar à tonalidade ideal. A exposição mostra toda essa habilidade dos artistas no uso das cores, manuseio do spray e tonalidades.
David Viana chama a atenção para o trabalho de inclusão social que vem realizando tendo como ponto de partida o grafite. No momento, o grupo realiza três oficinas, sendo uma delas no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira(IPPOO), no Poço da Draga, na Praia de Iracema e no Jardim Jatobá, divisa entre Fortaleza e Maracanaú.
A cantora Marta Aurélia realiza o show "Íntima", por ocasião da abertura da exposição.
Proposta
O artista explica que não foi difícil expressar em forma de cores e desenhos o tema do V Festival UFC de Cultura, que acontece de 15 a 19 de outubro. "A base foi aproximar os dois temas", revela, David Viana, fazendo referência à espiritualidade da Padaria.
"A gente tentou traduzir em forma de desenhos o que foi a Semana de Arte Moderna", argumenta. Algumas painéis remetem à obra da artista Tarsila do Amaral, por exemplo; em outras, o índio é traduzido numa linguagem do grafite de forma bem contemporânea.
O jogo de cores e desenhos é visto, ainda, em alguns eletrodomésticos que fazem parte da mostra, patrocinada pela Consul mediante a Lei Rouanet de incentivo à cultura.
"A ideia é trazer vários muros para dentro do museu", afirma Pedro Eymar, diretor do Mauc, afirmando que os desenhos ganham escala maior nas paredes das salas de exposições do equipamento.
A aproximação do Mauc com os artistas de rua começou em 2007, em homenagem ao pintor cearense Antônio Bandeira, citando o programa de bolsa arte mural quando os grafiteiros foram convidados para pintar um mural entre as avenidas Carapinima e 13 de Maio. A partir dessa iniciativa, a Pró-Reitoria de Administração passa a cuidar dos museus, dando prioridade à programação artística. No ano passado, por ocasião dos 50 anos do Mauc, foi solicitada a pintura do muro do campus do Pici, na Avenida Mr. Hull, envolvendo 80 grafiteiros.
Pedro Eymar explica essa abertura entre as várias linguagens artísticas, atribuindo ao modernismo essa relação. "É uma tendência das vanguardas", diz, daí o museu estar de portas abertas para receber essas manifestações, considerando o "modernismo uma linguagem universal".
Essa flexibilidade de adaptação da obra de arte aos vários suportes é uma herança moderna e que vendo sendo consolidada com a arte contemporânea. "São colagens, pinturas usando vários tipos de tintas", diz, ressaltando a mistura de técnicas. "Eles transformam os equipamentos", observa, recebendo com entusiasmo a iniciativa, acompanhada de perto pelo diretor do Mauc. As obras são realizadas à noite, afirma.
Mais informações:Exposição "Ocupação - O grafite no Mauc", no Museu de Arte da UFC (Av. da Universidade, 2854 - Benfica). Abertura hoje, às 17h. De 15 a 31 de outubro, das 9h às 18h
IRACEMA SALES
As paredes das quatro salas de exposições temporárias do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) trocaram a sobriedade da cor branca pela irreverência do grafite. Pelo menos de hoje, quando às 17h, acontece a abertura da mostra "Ocupação - O grafite no Mauc", até o dia 31, quem visitar o espaço vai se deparar com 17 painéis criados por 18 artistas de rua que integram o Coletivo Grafite CE, formado por grafiteiros da Capital, Região Metropolitana de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral.
A exposição faz parte da programação do V Festival UFC de Cultura, que tem como tema: "Pão, Modernismo e outras Revoluções na Arte Brasileira". Os grafites mesclam elementos dos dois movimentos artísticos, como a valorização dos elementos da cultura brasileira, mas sem perder de vista as referências contemporâneas, resultando num mundo de cores, figuras e formas que mais do que colorir as paredes do Mauc, provocam uma reflexão: qual o lugar da arte? A rua, as paredes dos museus ou os dois locais?
Vivência
Reflexões à parte, o que pode ser observado é que, aos poucos, esse diálogo entre arte/cidade/instituições vem sendo estreitado. Prova disso é o Mauc receber, pela primeira vez, uma exposição dessa linguagem artística usada também como uma forma de inclusão social, como afirma um dos integrantes da mostra, David Viana, há 18 anos lança mão ao spray.
Inicialmente, dos nove aos 16 anos como pichador. "Naquela época a gente tinha uma ideologia", conta, afirmando deixar sempre uma mensagem, o que não acontece atualmente. A primeira crew (galera) que integrou foi a "Paridos pelo Caos", passando em 2005 a fazer parte do Coletivo Grafite CE que conta atualmente com 170 integrantes. "O sonho de qualquer grafiteiro é expor em um museu", afirma David Viana, comparando a participação na mostra ao "prêmio Nobel de um grafiteiro". "Para quem começou pichando muros, para nós é uma vitória", revela.
Dos tempos de pichações, guarda uma cicatriz e a marca de um tiro que levou na perna. Mas foi escalando muros, nas caladas da noite, que David Viana adquiriu a habilidade de manusear o spray, pode ser considerado o pincel do grafiteiro, o artista dessa arte considerada nova.
"No Ceará, ela tem entre 18 e 20 anos", arbitra, afirmando que os desenhos devem expressar sentimentos, mas levam em consideração elementos contemporâneos.
"Não basta querer ser grafiteiro, é preciso saber dominar a lata do spray", orgulha-se, completando que grande parte dos artistas vêm da pichação. "O spray sai num jato, daí ser importante saber dosar os traços. É difícil", argumenta, admitindo ser diferente do uso do pincel. Assim é mais complicado preencher um espaço vazio usando o jato do spray, bem como a mistura de cores até se chegar à tonalidade ideal. A exposição mostra toda essa habilidade dos artistas no uso das cores, manuseio do spray e tonalidades.
David Viana chama a atenção para o trabalho de inclusão social que vem realizando tendo como ponto de partida o grafite. No momento, o grupo realiza três oficinas, sendo uma delas no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira(IPPOO), no Poço da Draga, na Praia de Iracema e no Jardim Jatobá, divisa entre Fortaleza e Maracanaú.
A cantora Marta Aurélia realiza o show "Íntima", por ocasião da abertura da exposição.
Proposta
O artista explica que não foi difícil expressar em forma de cores e desenhos o tema do V Festival UFC de Cultura, que acontece de 15 a 19 de outubro. "A base foi aproximar os dois temas", revela, David Viana, fazendo referência à espiritualidade da Padaria.
"A gente tentou traduzir em forma de desenhos o que foi a Semana de Arte Moderna", argumenta. Algumas painéis remetem à obra da artista Tarsila do Amaral, por exemplo; em outras, o índio é traduzido numa linguagem do grafite de forma bem contemporânea.
O jogo de cores e desenhos é visto, ainda, em alguns eletrodomésticos que fazem parte da mostra, patrocinada pela Consul mediante a Lei Rouanet de incentivo à cultura.
"A ideia é trazer vários muros para dentro do museu", afirma Pedro Eymar, diretor do Mauc, afirmando que os desenhos ganham escala maior nas paredes das salas de exposições do equipamento.
A aproximação do Mauc com os artistas de rua começou em 2007, em homenagem ao pintor cearense Antônio Bandeira, citando o programa de bolsa arte mural quando os grafiteiros foram convidados para pintar um mural entre as avenidas Carapinima e 13 de Maio. A partir dessa iniciativa, a Pró-Reitoria de Administração passa a cuidar dos museus, dando prioridade à programação artística. No ano passado, por ocasião dos 50 anos do Mauc, foi solicitada a pintura do muro do campus do Pici, na Avenida Mr. Hull, envolvendo 80 grafiteiros.
Pedro Eymar explica essa abertura entre as várias linguagens artísticas, atribuindo ao modernismo essa relação. "É uma tendência das vanguardas", diz, daí o museu estar de portas abertas para receber essas manifestações, considerando o "modernismo uma linguagem universal".
Essa flexibilidade de adaptação da obra de arte aos vários suportes é uma herança moderna e que vendo sendo consolidada com a arte contemporânea. "São colagens, pinturas usando vários tipos de tintas", diz, ressaltando a mistura de técnicas. "Eles transformam os equipamentos", observa, recebendo com entusiasmo a iniciativa, acompanhada de perto pelo diretor do Mauc. As obras são realizadas à noite, afirma.
Mais informações:Exposição "Ocupação - O grafite no Mauc", no Museu de Arte da UFC (Av. da Universidade, 2854 - Benfica). Abertura hoje, às 17h. De 15 a 31 de outubro, das 9h às 18h
IRACEMA SALES
REPÓRTER
Acesso: 15/10/12
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