VUILLARD PINTAVA
GRANDES-PLANOS que eram, em sua maioria, de interiores, embora por vezes ele
também reproduzisse jardins. Em umas poucas obras, buscou combinar a magia da
proximidade com o encantamento da distância, representando um canto de aposento
de cuja parede pendia um quadro, seu ou alheio, contendo uma paisagem com
árvores distantes, montes e céu. Essa era uma oportunidade para tirar o máximo
efeito de ambos os mundos - o telescópico e o microscópico - com um único golpe
de vista.
De resto, só me
posso lembrar de um número reduzido de paisagens em grandeplano, pintadas por
artistas europeus modernos. Há um estranho Bosque por Van Gogh, no
Metropolitano de Nova York; o maravilhoso O valezinho de Helmingham Park, de
Constable, na Galeria Nacional de Arte Britânica; um mau quadro de Millais - Ofélia
- que, apesar de
tudo, é encantador graças a seu intricado de folhagem estivai vista de muito
próximo. E ainda me recordo de um Delacroix que vi de relance, há muito tempo,
em uma exposição de penhores - um tronco, com sua ramaria coberta de flores,
retratado de muito perto. E claro que deve haver outras obras, mas, se outras
vi, delas já não me lembro.
Seja como for,
nada há no Ocidente que se equipara às reproduções em grandeplano da Natureza,
de autoria dos pintores chineses e japoneses: um galho de ameixeira em flor; um
palmo de haste de bambu com suas folhas; passarinhos entre arbustos, vistos a
pouco mais de uma extensão de braço; flores, folhagens, aves, peixes e pequenos
mamíferos de todas as espécies. Cada pequeno ser vivo é representado como
centro de seu universo, como a razão de ser - segundo sua própria concepção -
para a criação deste mundo e de tudo que nele existe; cada um deles lança sua
própria declaração de independência do imperialismo humano e, por ironia, zomba
de nossas absurdas pretensões de estabelecer normas puramente humanas para a
conduta dos processos cósmicos; cada um repete para si mesmo a sublime
tautologia: sou o que sou.
fonte: livro As Portas da Percepção & Céu e Inferno de Aldous Huxley - Apêndice V
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