Em São Paulo, o mês de setembro vai ser lembrado pelo calor acima da média e pelas exposições que têm atraído multidões. Teve filas enormes, mesmo com as temperaturas mais altas para um inverno nos últimos 57 anos. Na sexta, abriu a Bienal de Artes, com propostas, digamos assim, ousadas. Mas também tem arte mais tradicional.
Neste setembro, a arte é que nos move. Na Estação da Luz, na arquitetura de 1900, uma instalação de 1967 se equilibra em fios de aço.
Na Avenida Paulista, no museu dos anos 60, onde se avista o maior vão livre da América do Sul, se agiganta a fila dos que querem ver o drama das pinturas de Caravaggio, o pintor barroco do século XVII.
No centro da cidade, no prédio de 1900, estão os pintores impressionistas do século XIX, vindos de Paris. Mas, para alcançá-los, é preciso atravessar o grande espaço da paciência.
“Cinco horas de fila. Eu já tava desistindo, mas quando entrei, deu aquela leveza. Foi tão gostoso”, diz Eliane Aoki, administradora.
“Três horas e meia. Mas valeu a pena, ficaria de novo”, conta uma mulher.
De olho nas figuras de Renoir, no tocador de pífaro de Edouard Manet, no auto-retrato de Cézanne, nas bailarinas de Degas, na ponte japonesa e o lago das ninféias de Monet.
“Me sinto privilegiada de ver isso ao vivo”, diz a secretária Miriam Maradei.
“Estou me sentindo na França. Estou me sentindo uma madame francesa”, brinca uma mulher.
Do silêncio dos impressionistas para a arte ruidosa da Bienal. Tudo cabe, desde a delicadeza dos bordados até o deslizamento de dez toneladas de terra. Tudo está reunido no prédio idealizado por Oscar Niemeyer, nos anos 50, quando ele dizia: ‘Um projeto só me satisfaz se for bonito, porque nem sempre pode ser útil. A beleza precisa ser inventada’.
As molas se mexem movidas pela vibração do som. Um chinês se propõe a bater um cartão de ponto de hora em hora, durante um ano, tempo em que o cabelo dele cresce e o movimento da vida fica registrado no cartão. A variedade da Bienal é tanta que tem até desenhos pelas paredes.
Um fotógrafo holandês procura coincidências nas grandes cidades do mundo. Em tempos de globalização, parecemos todos iguais. “Eu gostei dos quadros que tem o pessoal lá na China que eles levantam a camisa e aparece o umbigo. É uma coisa que eu gosto de fazer. Eu me reconheci lá”, diz o lojista Marcelo Chao.
O grande homenageado desta Bienal é Arthur Bispo do Rosário, com mais de 300 obras. Ele viveu boa parte da vida em um hospital psiquiátrico, no Rio de Janeiro, e nas mãos dele tudo se transformou em arte.
“Viveu em um hospício. Que coisa maravilhosa ele criou. Quanta coisa bonita ele tinha dentro dele para passar e acho que as pessoas não entendiam o que ele tinha dentro dele”, diz a funcionária pública Débora Rocha.
A bienal tem três mil obras de 111 artistas. Algumas estão espalhadas pelas ruas. Então, vocês estão convidados a vir a São Paulo. Só não se assustem se encontrarem algum objeto diferente na rua, pode ser uma obra de arte.
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