sábado, 15 de setembro de 2012

Exposição:Fragmentos de uma memória visual


14.09.2012
Em exposição no Centro, o fotógrafo Ricardo Schmitt faz um recorte dos mais de 40 anos de carreira no Ceará

Ricardo Schmitt: após catalogação das cerca de 200 mil imagens de seu acervo, desejo de levar o material para o Museu da Imagem e do Som (MIS)
Carioca radicado em Fortaleza, Ricardo Schmitt tem uma trajetória que se confunde com a própria história do fotojornalismo cearense. Ao longo de 40 anos de carreira, contribuiu, juntamente com outros fotógrafos pioneiros, para profissionalizar a atividade no Estado. Além de jornais e revistas locais, seu currículo inclui material publicado em grandes veículos do País.

Para ampliar o acesso a esse legado, foi lançada a exposição "Ricardo Schimitt - Documenta", em cartaz até 31 de outubro na Galeria Antônio Bandeira. Com 42 imagens elaboradas nas décadas de 1970 e 80, a mostra constitui um pequeno recorte na produção do autor.

Entre os temas estão política, moda, cultura e paisagens. A exposição é resultado do III Edital de Concurso Prêmio de Fotografia, da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor). A ideia inicial era montar a exposição com 250 fotografias. Mas, além dessa mudança, outros contratempos terminaram por modificar o projeto. O resultado final não corresponde ao porte e relevância do acervo acumulado por Schmitt nas últimas quatro décadas, que registra parte da história recente do Ceará. Várias das imagens expostas tiveram sua qualidade alterada, em termos de cores, contraste e outros aspectos. A falta de legendas que identifiquem os assuntos - especialmente no caso de paisagens antigas e personalidades- também atrapalha a experiência do público.
A exposição "Ricardo Schmitt - Documenta": história recente do Ceará Fotos: Natasha Mota

Ainda assim, é possível encontrar pequenos tesouros na mostra, como a imagem da então recém-eleita prefeita de Fortaleza Maria Luíza Fontenele, em pose de comemoração; ou do então presidente José Sarney, sendo surpreendido pelo abraço de um amigo, no Maranhão, onde foi votar nas eleições de 1985; ou, ainda, dos políticos César Cals, Adauto Bezerra e Virgílio Távora, reunidos em conversa informal.

"Essa do Sarney fiz justamente com o último frame do filme. Estava correndo para vir para Fortaleza, porque precisava fazer as fotos da Maria Luiza", recorda Schmitt.

"Tinha sido pautado para cobrir o Sarney votando no Maranhão. Como ninguém esperava que Maria Luiza fosse vencer, ela ficou descoberta na cobertura das eleições, as atenções ficaram no candidato favorito, Paes de Andrade", conta. "No fim, minhas fotos foram praticamente as únicas dela, publicadas em vários veículos". Esses e outros episódios revelam como o trabalho de Schmitt - assim como de outros grandes fotógrafos da época - está intimamente ligado à preservação da memória política, cultural, artística e social do Ceará.

Que o digam as imagens realizadas no Interior, que trazem ao espectador o horror das secas no Nordeste. Uma delas reúne elementos tão emblemáticos que consegue resumir boa parte do drama da sede: mostra uma família com vários filhos, deixando sua casa e caminhando em cenário desértico.

"Dos 30 dias de um mês, passava, em média, de 15 a 20 viajando. Quando acabávamos a cobertura, era preciso correr de volta para o aeroporto para enviar os filmes", conta Schmitt, recordando um tempo em que o jornalismo não contava com as facilidades da internet.

"No aeroporto, pedíamos a algum passageiro que levasse a encomenda, avisávamos ao pessoal da redação, que ia lá encontrar o sujeito", ri. Além de colaborar com diferentes veículos, Schmitt foi dono, em Fortaleza, do estúdio Reflex, onde utilizou uma série de tecnologias até então inéditas no Estado. Há quatro anos, o fotógrafo trabalha na catalogação de seu acervo, que reúne em torno de 200 mil imagens, além de documentos, registros de negociações de pauta e outros materiais relacionados ao fazer jornalístico nas últimas décadas.

Quando terminar essa primeira etapa, Schmitt deseja que o material seja incorporado pelo Museu da Imagem e do Som. "O Instituto Moreira Salles (RJ) manifestou interesse em comprar, mas esse acervo não faz tanto sentido lá quanto aqui", explica o fotógrafo.

Apesar dos planos, o fotógrafo critica a situação delicada do MIS. Para ele, a carência de estrutura e de equipe técnica especializada do equipamento impede-o de abrigar qualquer material desse porte.

Mais informações
Exposição "Ricardo Schmitt - Documenta" - até 31 de outubro na Galeria Antônio Bandeira (R. Conde D´Eu, 560, Centro - Centro de Referência do Professor). Visitação: de segunda a sexta, de 9h às 18h; sábados, de 9h às 13h. Gratuito. Contato: (85) 3105.1403

Nenhum comentário:

Postar um comentário