Porque a memória é o que resiste
ao tempo e a seus poderes de destruição, e é algo assim como a forma que a
eternidade pode assumir nesse incessante trânsito. E ainda que nós (nossa
consciência, nossos sentimentos, nossa dura experiência) nos modifiquemos com
os anos, e também nossa pele e nossas rugas vão se convertendo em prova e
testemunho desse trânsito, há algo em nós, bem lá dentro, em regiões muito
escuras, aferrado com unhas e dentes à infância e ao passado, à raça e à terra,
à tradição e aos sonhos, que parece resistir a esse trágico processo: a
memória, a misteriosa memória de nós mesmos, do que somos e do que fomos.
Ernesto Sábato
(1911-2011)
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