quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que é memória social?



Memória seria o processo de adquirir, armazenar e recuperar informações que foram assimiladas pela mente. A Memória Social seria a coletivização desse processo. O autor que deu origem a esse pensamento foi o sociólogo Maurice Halbwachs, ele afirmava que Memória Social é a essência do conhecimento coletivo e culturalmente conhecido por determinado grupo balizado por um determinado contexto.
Outro autor conceitua Memória Social e faz a aproximação com o pensamento de identidade. POLLAK(1992) afirma que em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e individualmente e que quando do se trata da memória herdada, podemos também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade.
Essa proximidade entre memória e identidade é evidenciada por LE GOFF (1997): “a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje”.
São inúmeras as dificuldades quando se tenta conceituar “memória social”. Campos abertos, assim como “cultura”, possibilitam bastante discussão já que não possuem regras definidas nem fórmulas lógicas. Pelo mesmo motivo, não se chega a um conceito satisfatório. A psicanalista Jô Gondar ressalta isso com a seguinte afirmação: “dois perigos, entretanto, costumam ameaçar os territórios abertos e colhedores do múltiplo: a ausência de rigor e o ecletismo ético”.
Para não incorrer em tais dificuldades, a autora Jô Gondar não tenta conceituar, mas elabora quatro proposições sobre Memória Social.
· Primeira proposição: O conceito de memória social é transdisciplinar
“A memória social, como objeto de pesquisa passível de ser conceituado, não pertence a nenhuma disciplina tradicionalmente existente, e nenhuma delas goza do privilégio de produzir o seu conceito. Esse conceito se encontra em construção a partir de novos problemas que resultam do atravessamento de disciplinas diversas.” (GONDAR, 2005)
A autora explica também que o conceito de “memória social” não pode ser multidisciplinar, já que para a uma boa compreensão não bastaria apenas somar saberes de duas ou mais disciplinas. A memória social também não se bastaria sendo interdisciplinar. A intersecção de saberes de mais de uma disciplina não seria suficiente para essa definição. Em ambos os casos, ainda haveria algo fugidio, sem explicação.
Mesmo com a interação das disciplinas e um diálogo entre elas, tanto na multidisciplinar quanto na interdisciplinariedade, cada uma tem seu território muito bem definido. Como o conceito de memória social nasce a partir do “atravessamento de disciplinas diversas”, a melhor definição do conceito é de que é um campo transdisciplinar.
Os estudos nesta área não têm o intuito de relativizar as diferenças e sugerir uma interação harmoniosa, mas sim interrogar a memória social a partir de sua natural transversalidade.
· Segunda proposição: O conceito de memória social é ético e político
“Uma apresentação panorâmica e pretensamente imparcial sobre as diversas noções de memória social pode parecer aberta às diferenças, mas de fato encobre uma pretensão totalizante em que as diferenças se esvaem, pois se o conceito de memória social apresenta significações diferentes, isso não quer dizer que elas sejam equivalentes”.(GONDAR, 2005)
Nesta afirmação, a autora traz luz para a idéia de que a história é sempre parcial, ela é contada por um determinado grupo ou classe, geralmente uma classe dominante ou vencedora. Na história contada é sempre impressa uma série de percepções que não são pura verdade, elevando a importância de alguns fatos e relevando outros.
· Terceira proposição: a memória é uma construção processual
Talvez, das quatro proposições, essa seja a que gera maior controvérsia. A autora admite que a memória é uma construção. Seguindo esta linha de pensamento, ela condena termos como “reconstituição” e “resgate” quando associados a memória.
A afirmação de que a memória “não nos conduz a reconstituir o passado, mas sim a reconstruí-lo com base nas questões que nós fazemos, que fazemos a ele, questões que dizem mais de nós mesmos, de nossa perspectiva presente, que do frescor dos acontecimentos passados”(GONDAR, 2005) explicita como a memória é construída e reconstruída por cada um cada vez que ela é contada.
Indiretamente, a autora ataca a idéia de que a memória como sinônimo de representação coletiva.
· Quarta proposição: a memória não se reduz à representação
“Se reduzirmos a memória a um campo de representações, desprezamos as condições processuais de sua produção.”(GONDAR, 2005)
A memória é algo muito maior do que as meras representações. A tão utilizada metáfora do iceberg se encaixa muito bem nesse conceito. A representação seria somente a ponta do iceberg, sendo que a memória em si seria toda a parte que não é visível, que está escondida, mas que dá toda a sustentação da representação.
           
O artigo da Jô Gondar demonstra uma linha de pensamento que é totalmente contra os processos de resgate da memória. Ela acaba deixando bastante claro que a memória não pode ser simplesmente resgatada, sempre haverá mudanças. Considerando que há mudanças, torna-se muito mais simples admitir que a memória é uma construção e que se modificará constantemente.

Fonte: http://monitorandoturismo.blogspot.com.br/2010/09/o-que-e-memoria-social.html

Referências Bibliográficas

GONDAR, Jô.: Quatro Proposições sobre Memória Social, in: GONDAR, Jô; DODEBEI, Vera. O que é memória social, Rio de Janeiro: UNIRIO, 2005
LE GOFF, Jacques. Memória. In: Enciclpédia Einaudi: volume 1 – Memoria e História. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1997.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, nº10, 1992.

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