Memória seria
o processo de adquirir, armazenar e recuperar informações que foram assimiladas
pela mente. A Memória Social seria a coletivização desse processo. O autor que
deu origem a esse pensamento foi o sociólogo Maurice Halbwachs, ele afirmava
que Memória Social é a essência do conhecimento coletivo e culturalmente
conhecido por determinado grupo balizado por um determinado contexto.
Outro autor
conceitua Memória Social e faz a aproximação com o pensamento de identidade.
POLLAK(1992) afirma que em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído
social e individualmente e que quando do se trata da memória herdada, podemos
também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e
o sentimento de identidade.
Essa proximidade entre memória e identidade é
evidenciada por LE GOFF (1997): “a
memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual
ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das
sociedades de hoje”.
São inúmeras as dificuldades quando se tenta
conceituar “memória social”. Campos abertos, assim como “cultura”, possibilitam
bastante discussão já que não possuem regras definidas nem fórmulas lógicas.
Pelo mesmo motivo, não se chega a um conceito satisfatório. A psicanalista Jô
Gondar ressalta isso com a seguinte afirmação: “dois perigos, entretanto,
costumam ameaçar os territórios abertos e colhedores do múltiplo: a ausência de
rigor e o ecletismo ético”.
Para não incorrer em tais dificuldades, a autora Jô
Gondar não tenta conceituar, mas elabora quatro proposições sobre Memória
Social.
· Primeira
proposição: O conceito de memória social é transdisciplinar
“A memória social, como
objeto de pesquisa passível de ser conceituado, não pertence a nenhuma
disciplina tradicionalmente existente, e nenhuma delas goza do privilégio de
produzir o seu conceito. Esse conceito se encontra em construção a partir de
novos problemas que resultam do atravessamento de disciplinas diversas.”
(GONDAR, 2005)
A autora explica também
que o conceito de “memória social” não pode ser multidisciplinar, já que para a
uma boa compreensão não bastaria apenas somar saberes de duas ou mais
disciplinas. A memória social também não se bastaria sendo interdisciplinar. A
intersecção de saberes de mais de uma disciplina não seria suficiente para essa
definição. Em ambos os casos, ainda haveria algo fugidio, sem explicação.
Mesmo com a interação das
disciplinas e um diálogo entre elas, tanto na multidisciplinar quanto na
interdisciplinariedade, cada uma tem seu território muito bem definido. Como o
conceito de memória social nasce a partir do “atravessamento de disciplinas
diversas”, a melhor definição do conceito é de que é um campo transdisciplinar.
Os estudos nesta área não
têm o intuito de relativizar as diferenças e sugerir uma interação harmoniosa,
mas sim interrogar a memória social a partir de sua natural transversalidade.
· Segunda proposição:
O conceito de memória social é ético e político
“Uma apresentação
panorâmica e pretensamente imparcial sobre as diversas noções de memória social
pode parecer aberta às diferenças, mas de fato encobre uma pretensão
totalizante em que as diferenças se esvaem, pois se o conceito de memória
social apresenta significações diferentes, isso não quer dizer que elas sejam
equivalentes”.(GONDAR, 2005)
Nesta afirmação, a autora
traz luz para a idéia de que a história é sempre parcial, ela é contada por um
determinado grupo ou classe, geralmente uma classe dominante ou vencedora. Na
história contada é sempre impressa uma série de percepções que não são pura
verdade, elevando a importância de alguns fatos e relevando outros.
· Terceira
proposição: a memória é uma construção processual
Talvez, das quatro
proposições, essa seja a que gera maior controvérsia. A autora admite que a
memória é uma construção. Seguindo esta linha de pensamento, ela condena termos
como “reconstituição” e “resgate” quando associados a memória.
A afirmação de que a
memória “não nos conduz a reconstituir o passado, mas sim a reconstruí-lo com
base nas questões que nós fazemos, que fazemos a ele, questões que dizem mais
de nós mesmos, de nossa perspectiva presente, que do frescor dos acontecimentos
passados”(GONDAR, 2005) explicita como a memória é construída e reconstruída
por cada um cada vez que ela é contada.
Indiretamente, a autora
ataca a idéia de que a memória como sinônimo de representação coletiva.
· Quarta proposição: a memória não se reduz à
representação
“Se reduzirmos a memória
a um campo de representações, desprezamos as condições processuais de sua
produção.”(GONDAR, 2005)
A memória é algo muito
maior do que as meras representações. A tão utilizada metáfora do iceberg se
encaixa muito bem nesse conceito. A representação seria somente a ponta do
iceberg, sendo que a memória em si seria toda a parte que não é visível, que
está escondida, mas que dá toda a sustentação da representação.
O artigo da Jô Gondar demonstra uma linha de
pensamento que é totalmente contra os processos de resgate da memória. Ela
acaba deixando bastante claro que a memória não pode ser simplesmente
resgatada, sempre haverá mudanças. Considerando que há mudanças, torna-se muito
mais simples admitir que a memória é uma construção e que se modificará
constantemente.
Fonte: http://monitorandoturismo.blogspot.com.br/2010/09/o-que-e-memoria-social.html
Fonte: http://monitorandoturismo.blogspot.com.br/2010/09/o-que-e-memoria-social.html
Referências
Bibliográficas
GONDAR,
Jô.: Quatro Proposições sobre Memória Social, in: GONDAR, Jô; DODEBEI,
Vera. O que é memória social, Rio de Janeiro: UNIRIO, 2005
LE GOFF, Jacques. Memória. In: Enciclpédia
Einaudi: volume 1 – Memoria e História. Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
1997.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, nº10, 1992.
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