Novas salas contém três mil peças de arte muçulmana, persa, turca e mongol
Publicação: 18/09/2012 14:14
Em seu livro O Museu da Inocência, Pamuk Orham argumenta que os não-ocidentais têm medo dos grandes museus e não os visitam "por suas amplas portas, que nos fazem esquecer nossa humanidade e abraçar o Estado com suas massas humanas". O Louvre, o último símbolo da grandeza da França e museus majestosos, há uma década se propôs a construir pontes entre civilizações e mostrar as luzes da cultura islâmica. O presidente François Hollande inaugura o grande projeto, lançado por Jacques Chirac em 2002 ao custo de 98,5 milhões de euros. A partir de hoje o Louvre ganha seu oitavo departamento, dedicado à arte do Islã.
Após oito anos de obras, os arquitetos Mario Bellini e Rudy Ricciotti criaram 4 mil metros quadrados de novos espaços. As salas contêm três mil peças de arte muçulmana, persa, turca e mongol, vindas da própria coleção do Louvre e do vizinho Museu de Artes Decorativas: algumas não são vistas há 10 anos e outras ficaram meio século guardadas por falta de espaço para exposição. A seção foi concebida por Sophie Makariou, chefe de arte islámica do Louvre, e percorre três continentes, desde a Espanha até a Índia, e doze séculos.
"Evitamos as dinastias pois é impossível nomear tanta gente e queríamos mostrar que no Islã sempre houve beleza e arte civil, criada por pessoas e culturas diferentes, não apenas os árabes", disse Makariou.
Ela trabalhou dez anos na seleção das peças e passou pela aflição de ser obrigada a descartar 17 mil objetos das coleções. Seguindo como fonte básica os textos do historiador tunisiano de origem andaluz Ibn Jaldún (século 14), o relato cronológico começa com a morte de Maomé, em 632 d.C., passa pelas guerras civis que separaram o Islã em xiitas e sunitas (século 9), narra a expansão turca no século 11, se detém na cultura bérbere, em Bagdá e na Andaluzia até chegar ao século 19, "quando a iconografía começa a confundir-se com o hosto europeu".
Há objetos, persianas, portas, azulejos, tapetes, vasos, espadas, esculturas. Entre os mais impressionantes, uma caixa de marfim do príncipe Al-Mughira, último califa de Córdoba. Todas essas novas salas, que abriram para o público no sábado, terão informações em francês, inglês e espanhol. Ironicamente, nãop haverá informações em árabe.
"Teríamos que colocá-las também em turco e persa", afirma Makariou.
A cobertura do pátio Visconti, às margens do Sena, dá um toque de modernidade à seção. O italiano Bellini e o francês Ricciotti ganharam o concurso em 2004 com uma ideia: fechar boa parte do pátio, mas não todo, com uma grande boina de cristal e alumínio dourado, ondulada. A cobertura "voa" a distâncias diferentes, de 1,5 a oito metros. A construção não levantou a polêmica criada pelas pirâmides de cristal do japonês japonés I. M. Pei, inauguradas na fachada principal do museu em 1989 e vistas por muitos como um sacrilégio.
"O pavilhão do islã é a maior intervenção arquitetônica no Louvre desde então", recorda o diretor do museu, Henry Loirette, “Pensamos em fazer um novo museu, mas Chirac insistiu que a coleção islâmica fosse parte do Louvre, pois é nossa herança cultura e se conecta muito bem com o resto do museu".
Loirette ilustra essa teve som outras das peças mais destacadas: o batistério de São Luís, onde foi batizado Luís XIII e outros reis franceses.
O financiamento do projeto também segue o conceito de mestiçagem. O Estado francês contribuiu com 31 milhões de euros, o museu com 11,5 milhões e outros 60% vieram de vários mecenas. O principal doador foi o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal, com 17 milhões de euros. O rei do Marrocos; o emir do Kuwait, o sultão de Omán e a república do Azerbaijão entraram com 26 milhões. Além disso, várias empresas francesas, entre elas a Total, Lafarge e Bouygues, doaram 13 milhões.
A abertura levanta, como em quase todas as coleções dos velhos museus ocidentais, algumas dúvidas éticas e políticas. O Louvre é o museu da revolução, da monarquia e da república laica, mas não se salva das críticas de paternalismo e pós-colonialismo. Países como a Turquia reclamam suas peças, alegando que foram roubadas durante invasões na época do colonialismo ocidental.
Diante de um grupo de jornalistas estrangeiros, os arquitetos e a diretora passam alguns constrangimentos para se explicar. Visivelmente tensa, Makariou fala.
"Eu não roubei nada. Muitas peças são compradas. A história dos museus é como é. E ao Louvre vem pessoas de todas as nacionalidades possíveis”.
Após oito anos de obras, os arquitetos Mario Bellini e Rudy Ricciotti criaram 4 mil metros quadrados de novos espaços. As salas contêm três mil peças de arte muçulmana, persa, turca e mongol, vindas da própria coleção do Louvre e do vizinho Museu de Artes Decorativas: algumas não são vistas há 10 anos e outras ficaram meio século guardadas por falta de espaço para exposição. A seção foi concebida por Sophie Makariou, chefe de arte islámica do Louvre, e percorre três continentes, desde a Espanha até a Índia, e doze séculos.
"Evitamos as dinastias pois é impossível nomear tanta gente e queríamos mostrar que no Islã sempre houve beleza e arte civil, criada por pessoas e culturas diferentes, não apenas os árabes", disse Makariou.
Ela trabalhou dez anos na seleção das peças e passou pela aflição de ser obrigada a descartar 17 mil objetos das coleções. Seguindo como fonte básica os textos do historiador tunisiano de origem andaluz Ibn Jaldún (século 14), o relato cronológico começa com a morte de Maomé, em 632 d.C., passa pelas guerras civis que separaram o Islã em xiitas e sunitas (século 9), narra a expansão turca no século 11, se detém na cultura bérbere, em Bagdá e na Andaluzia até chegar ao século 19, "quando a iconografía começa a confundir-se com o hosto europeu".
Há objetos, persianas, portas, azulejos, tapetes, vasos, espadas, esculturas. Entre os mais impressionantes, uma caixa de marfim do príncipe Al-Mughira, último califa de Córdoba. Todas essas novas salas, que abriram para o público no sábado, terão informações em francês, inglês e espanhol. Ironicamente, nãop haverá informações em árabe.
"Teríamos que colocá-las também em turco e persa", afirma Makariou.
A cobertura do pátio Visconti, às margens do Sena, dá um toque de modernidade à seção. O italiano Bellini e o francês Ricciotti ganharam o concurso em 2004 com uma ideia: fechar boa parte do pátio, mas não todo, com uma grande boina de cristal e alumínio dourado, ondulada. A cobertura "voa" a distâncias diferentes, de 1,5 a oito metros. A construção não levantou a polêmica criada pelas pirâmides de cristal do japonês japonés I. M. Pei, inauguradas na fachada principal do museu em 1989 e vistas por muitos como um sacrilégio.
"O pavilhão do islã é a maior intervenção arquitetônica no Louvre desde então", recorda o diretor do museu, Henry Loirette, “Pensamos em fazer um novo museu, mas Chirac insistiu que a coleção islâmica fosse parte do Louvre, pois é nossa herança cultura e se conecta muito bem com o resto do museu".
Loirette ilustra essa teve som outras das peças mais destacadas: o batistério de São Luís, onde foi batizado Luís XIII e outros reis franceses.
O financiamento do projeto também segue o conceito de mestiçagem. O Estado francês contribuiu com 31 milhões de euros, o museu com 11,5 milhões e outros 60% vieram de vários mecenas. O principal doador foi o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal, com 17 milhões de euros. O rei do Marrocos; o emir do Kuwait, o sultão de Omán e a república do Azerbaijão entraram com 26 milhões. Além disso, várias empresas francesas, entre elas a Total, Lafarge e Bouygues, doaram 13 milhões.
A abertura levanta, como em quase todas as coleções dos velhos museus ocidentais, algumas dúvidas éticas e políticas. O Louvre é o museu da revolução, da monarquia e da república laica, mas não se salva das críticas de paternalismo e pós-colonialismo. Países como a Turquia reclamam suas peças, alegando que foram roubadas durante invasões na época do colonialismo ocidental.
Diante de um grupo de jornalistas estrangeiros, os arquitetos e a diretora passam alguns constrangimentos para se explicar. Visivelmente tensa, Makariou fala.
"Eu não roubei nada. Muitas peças são compradas. A história dos museus é como é. E ao Louvre vem pessoas de todas as nacionalidades possíveis”.
Acesso em 18/09/12.
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