Celulares, câmeras digitais e analógicas, tablets, webcams… A fotografia se popularizou nos últimos tempos e agora está presente nos mais diversos meios e dispositivos. Como afirma João Luiz Musa, professor de fotografia da ECA (Escola de Comunicações e Artes), a fotografia “em si virou objeto. Ela saiu daquele nicho de ser uma coisa que só servia aos outros para virar uma linguagem autônoma”.
Mas, com a expansão dos limites da fotografia, será que ela é compreendida em suas diversas formas pelo público? Musa considera que não, pois o acesso à linguagem não é tão difundido quanto a fotografia. “A universidade deveria oferecer a iniciação nessa linguagem para todo mundo.” Ele ainda afirma que quanto mais pessoas dominarem esse recurso, melhores conteúdos serão produzidos e entendidos.
Atualmente, a USP tem vários projetos relacionados ao assunto. O JCselecionou três exposições que apresentam diferentes focos da fotografia.
Adentro
O MAC (Museu de Arte Contemporânea) Ibirapuera atualmente apresenta a exposição Adentro, que traz o resultado da pesquisa de mestrado em artes visuais de Denise Meirelles, orientada pelo professor João Luiz Musa.
As imagens expostas foram fotografadas entre 2008 e 2012 no interior de Minas Gerais, nas cidades da Serra da Canastra, Delfinópolis e São João Batista do Glória. Denise foi morar na região e, a partir de um interesse na estética do lugar, veio a ideia do mestrado. Ela afirma que a princípio se encantou pela paisagem. Com o tempo, aproximou-se das pessoas que faziam a Folia de Reis na cidade, possibilitando seu acesso com a câmera fotográfica às residências locais. “Depois eu voltava sozinha nas casas que me interessavam e fotografava com calma.”
A Folia de Reis é uma manifestação natalina, um culto aos santos reis feito por um grupo composto por palhaços acompanhados de uma companhia. Ela acontece entre 24 de dezembro e 6 de janeiro. Eles entram nas casas cantando músicas, como uma espécie de oração. A festa é uma tradição forte nas cidades visitadas pela fotógrafa e ocorre em várias épocas do ano, não apenas após o natal.
Denise destaca que se preocupou principalmente com a estética das imagens. Apesar disso, as fotografias apresentam um caráter documental e um viés antropológico. “Eu estava fotografando algo que serve como documento do lugar, mas eu estava prestando atenção na luz, nas cores, compondo com isso”, explica Denise. Assim, no momento da edição foram excluídos os trabalhos mais objetivos. “Deixei as fotos que ficam mais soltas na imaginação, que não se fecham em um único significado.”
“A fotografia é um trabalho artístico mesmo”, diz Denise, ressaltando seu cuidado na composição artística, como na pintura de um quadro, e que existe um significado na disposição de cada elemento no recorte. Por ter sido feito com máquina digital, na hora do tratamento existe uma preocupação direta com a composição das cores. “É possível escolher a variante da tonalidade de cada cor.”
Como as fotos expõem a cultura do interior de Minas, a mestranda destacou a necessidade de se interessar por aquele universo para compor seus quadros. Isso está diretamente relacionado ao tempo que demandou o trabalho, demorando até que fosse possível criar confiança mútua.
Nos jardins de Arnaldo
Com a popularização da fotografia digital, a linha que divide profissionais e amadores está cada vez mais imperceptível. É o caso da exposição Nos jardins de Arnaldo, evento que faz parte das comemorações do centenário da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
O ensaio, que retrata a beleza do prédio e dos jardins da Faculdade sob diversos olhares, é de autoria do médico Arthur Danila, ex-aluno da instituição. “Eu acredito que uma fotografia bem colocada põe a pessoa em outro estado de ânimo. Captar o momento faz pensar”, opina.
A opção de colocar os painéis nos jardins seria uma forma de fazer as pessoas aproveitarem o espaço, que muitas vezes é usado apenas como um corredor. “Muitas pessoas passam e não reparam a beleza do local”. Ele também destaca que a exposição é gratuita e aberta ao público, já que a Faculdade é um bem de toda a sociedade.
A fotografia – um hobby que ele tem desde criança – foi a forma que ele encontrou para levar, em suas palavras, “um pouco de poesia para o ambiente da FMUSP”. Ele afirma, “às vezes, tenho a impressão de que São Paulo é uma cidade árida e que não valorizamos os poucos espaços verdes dela.”
Arthur levou a ideia de expor as fotos tiradas desde 2007 – ano da conclusão do restauro do prédio – à Comissão de Cultura e Extensão (CCEx) da FMUSP, que adotou o projeto e o incluiu nas comemorações do centenário. O trabalho ainda conta com a curadoria de André Mota, coordenador do Museu Histórico da instituição, e Boris Kossoy, professor-titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA).
Ele conta que essa não era sua intenção inicial, e sim homenagear um lugar especial em sua vida. “Eu criei um amor muito grande pela FMUSP desde que entrei. É um lugar mágico. Cada uma dessas janelinha das fachadas que estão impressas nas fotos é um universo a ser explorado. Cada um pode se encontrar por lá”, declara Arthur.
Fotógrafos da Cena Contemporânea
O MAC (Museu de Arte Contemporânea) da Cidade Universitária é outro dos museus da USP que também está dando destaque para a fotografia. A exposiçãoFotógrafos da Cena Contemporânea apresenta trabalhos de diversos artistas, brasileiros e estrangeiros, e reúne temas recorrentes da fotografia praticada nos últimos anos.
As obras expostas são de 1954 até 2003, abarcando um período de quase 50 anos da fotografia contemporânea. As 63 fotografias expostas fazem parte da coleção do Banco Santos e estão em posse provisória do MAC. A responsável pela curadoria é a docente do Museu, Helouise Lima Costa, que procurou fazer um recorte de imagens que evidenciasse as principais questões culturais do nosso tempo.
Algumas fotografias também mostram o quão é determinante a influência do contexto cultural na recepção das imagens. Um bom exemplo de como diferentes culturas reagem de maneira diferente à fotografia é a imagem Kissing Nun, do fotógrafo italiano Oliveiro Toscani. A foto retrata uma freira beijando um padre e foi usada como anúncio da marca Benetton. Na Itália e na França, a imagem foi proibida, enquanto na Inglaterra ela conquistou o prêmio Eurovest, conferido aos trabalhos publicitários da Europa que mais se destacam.
A diversidade de materiais e técnicas utilizados pelos profissionais é outro ponto explorado pela exposição. Fotógrafos da Cena Contemporânea fica em exposição no MAC até 24 de fevereiro do próximo ano.
Serviço
Adentro
Quando? Até 02/09, terça a domingo, das 10 às 18 horas
Onde? MAC USP Ibirapuera – Pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3° piso, Parque Ibirapuera
Quanto? Grátis
Tel.: (11) 5573.9932
Quando? Até 02/09, terça a domingo, das 10 às 18 horas
Onde? MAC USP Ibirapuera – Pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3° piso, Parque Ibirapuera
Quanto? Grátis
Tel.: (11) 5573.9932
Nos Jardins de Arnaldo
Quando? Até 07/11
Onde? Jardim da FMUSP, Av. Dr. Arnaldo, 455, Cerqueira César
Quanto? Grátis
Tel.: (11) 3061-7249
Quando? Até 07/11
Onde? Jardim da FMUSP, Av. Dr. Arnaldo, 455, Cerqueira César
Quanto? Grátis
Tel.: (11) 3061-7249
Fotógrafos da Cena Contemporânea
Quando? Até 24/02/2013, terça e quinta, das 10 às 20 horas. Quarta, sexta, sábado domingo e feriados das 10 às 18 horas
Onde? MAC USP Cidade Universitária – R. da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária
Quanto? Grátis
Tel.: (11) 3091-3039
Por Giovanni Santa Rosa, Mariana Giovinazzo e Giuliana Genistretti
FONTE: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2012/09/instituicoes-da-usp-recebem-exposicoes-de-foto/ Acesso em 10/09/12
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