26/9/2012 6:05, Por swissinfo.ch - O portal suíço de notícias
O que muros em pedra natural têm a ver com uma procissão de lanternas de abóbora ou o dialeto falado? Ou com o hábito de comer fondue, contar histórias de fantasmas ou a cultura do castanheiro? E o que é mais tipicamente suíço?
A resposta: tudo isso figura na lista de 167 tradições vivas recentemente publicada na internet pela Secretaria Federal de Cultura como parte da implementação na Suíça da Convenção de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, ratificada por ela em 2008.
Três ou quatro delas serão posteriormente submetidas à UNESCO para inclusão em uma lista mundial. Especialistas farão a seleção e um conselho tomará a decisão final.
Essa convenção da UNESCO refere-se à “cultural imaterial”, mas David Vitali, responsável pela coordenação em nome da Secretaria Federal de Cultura, admitiu ter considerado o conceito “opaco”. Por essa razão a Suíça decidiu rapidamente de trocá-la por “tradições vivas”.
Mas enquanto isso torna claro que as tradições ainda são muito vivas e que estão sendo transmitidas, é de alguma forma enganadora: as pessoas tendem a conectar a expressão apenas à cultura popular. E, de fato, costumes tradicionais estão fortemente representados na lista.
“Isso tem a ver com a nossa ideia do que tradição e cultura são intangíveis. Porém em médio prazo gostaríamos de corrigir isso e preencher algumas lacunas em categorias que não estão bem representadas”, explica.
De fato, a UNESCO especificou cinco categorias: “práticas sociais” e “artes cênicas” cobrem tópicos como carnavais e cornes dos Alpes. As outras três são “expressões orais”, “artesanato tradicional” e “conhecimento sobre a natureza”.
Três ou quatro delas serão posteriormente submetidas à UNESCO para inclusão em uma lista mundial. Especialistas farão a seleção e um conselho tomará a decisão final.
Essa convenção da UNESCO refere-se à “cultural imaterial”, mas David Vitali, responsável pela coordenação em nome da Secretaria Federal de Cultura, admitiu ter considerado o conceito “opaco”. Por essa razão a Suíça decidiu rapidamente de trocá-la por “tradições vivas”.
Mas enquanto isso torna claro que as tradições ainda são muito vivas e que estão sendo transmitidas, é de alguma forma enganadora: as pessoas tendem a conectar a expressão apenas à cultura popular. E, de fato, costumes tradicionais estão fortemente representados na lista.
“Isso tem a ver com a nossa ideia do que tradição e cultura são intangíveis. Porém em médio prazo gostaríamos de corrigir isso e preencher algumas lacunas em categorias que não estão bem representadas”, explica.
De fato, a UNESCO especificou cinco categorias: “práticas sociais” e “artes cênicas” cobrem tópicos como carnavais e cornes dos Alpes. As outras três são “expressões orais”, “artesanato tradicional” e “conhecimento sobre a natureza”.
Fazendo escolhas
Vitali não está sozinho em sua preocupação com as lacunas.
Ellen Hertz, diretora do Instituto de Etnologia na Universidade de Neuchâtel, é uma das responsáveis pelo projeto multidisciplinar de pesquisa intitulado “Herança Cultural Intangível: o toque de Midas?”, criado para avaliar como a Suíça, com sua “longa tradição de estudos das próprias tradições” poderia se adequar à convenção da UNESCO.
“Nós queríamos ver se teríamos as mesmas antigas tradições como o canto alpino ‘yodel’ e costumes, ou se haveriam coisas que foram deixadas de lado em representações prévias da Suíça”, disse.
Enquanto eles descobriram que os itens familiares estão bem representados – “não há nenhuma razão para que eles não estivessem presentes” – há apenas algumas coisas novas.
Exemplos não tradicionais citados por ela incluem noções abstratas como democracia direta e também a relojoaria: “É algo curioso, pois é uma atividade exercida nas montanhas, mas também um negócio urbano de amplitude internacional e que envolve robôs e mecanização” (o item está categorizado no tópico de artesanato tradicional).
O site de tradições vivas descreve todas as tradições da lista como “parte integral da nossa diversidade cultural e identidade”. A Secretaria Federal de Cultura também fez questão de permitir que os grupos de imigrantes sugerissem suas próprias tradições.
O sucesso foi considerável. As propostas incluíam “Italianità” no cantão do Valais (sudoeste da Suíça), a contribuição da comunidade de imigrantes italianos à região, e o festival de San Giuseppe, originado da Sicília e hoje celebrado por toda a comunidade em Laufenburg no cantão da Argóvia.
A descrição de San Giuseppe diz que “a festa ajuda a reforçar a solidariedade entre os membros da população da cidade”, enquanto a imigração italiana poderia ser um “exemplo capaz de abrir caminhos para outros grupos de imigrantes”.
“É importante para nós que o foco não seja em ‘tradições suíças’, mas em tradições praticadas na Suíça”, reforça Vitali.
“E se você perguntar a um especialista em costumes populares, ele irá contar que muitas das tradições que pensamos terem longas raízes na nossa cultura foram, na realidade, importadas ou inventadas.”
Ellen Hertz, diretora do Instituto de Etnologia na Universidade de Neuchâtel, é uma das responsáveis pelo projeto multidisciplinar de pesquisa intitulado “Herança Cultural Intangível: o toque de Midas?”, criado para avaliar como a Suíça, com sua “longa tradição de estudos das próprias tradições” poderia se adequar à convenção da UNESCO.
“Nós queríamos ver se teríamos as mesmas antigas tradições como o canto alpino ‘yodel’ e costumes, ou se haveriam coisas que foram deixadas de lado em representações prévias da Suíça”, disse.
Enquanto eles descobriram que os itens familiares estão bem representados – “não há nenhuma razão para que eles não estivessem presentes” – há apenas algumas coisas novas.
Exemplos não tradicionais citados por ela incluem noções abstratas como democracia direta e também a relojoaria: “É algo curioso, pois é uma atividade exercida nas montanhas, mas também um negócio urbano de amplitude internacional e que envolve robôs e mecanização” (o item está categorizado no tópico de artesanato tradicional).
O site de tradições vivas descreve todas as tradições da lista como “parte integral da nossa diversidade cultural e identidade”. A Secretaria Federal de Cultura também fez questão de permitir que os grupos de imigrantes sugerissem suas próprias tradições.
O sucesso foi considerável. As propostas incluíam “Italianità” no cantão do Valais (sudoeste da Suíça), a contribuição da comunidade de imigrantes italianos à região, e o festival de San Giuseppe, originado da Sicília e hoje celebrado por toda a comunidade em Laufenburg no cantão da Argóvia.
A descrição de San Giuseppe diz que “a festa ajuda a reforçar a solidariedade entre os membros da população da cidade”, enquanto a imigração italiana poderia ser um “exemplo capaz de abrir caminhos para outros grupos de imigrantes”.
“É importante para nós que o foco não seja em ‘tradições suíças’, mas em tradições praticadas na Suíça”, reforça Vitali.
“E se você perguntar a um especialista em costumes populares, ele irá contar que muitas das tradições que pensamos terem longas raízes na nossa cultura foram, na realidade, importadas ou inventadas.”
Surpresas
Qualquer pessoa que tenha vivido na Suíça, até mesmo por pouco tempo, estará familiarizada com pelo menos um dos itens da lista, mas a diversidade é tão grande que poucos irão conhecer tudo.
O diretor da Secretaria Federal de Cultura, Jean-Frédéric Jauslin, nativo do cantão de Neuchâtel, ficou muito feliz de ter encontrado dentre os itens incluídos duas preferências da sua infância: a patinação no gelo no rio Doubs e o “torrée”, um tradicional churrasco local.
Jean-Bernard Münch, presidente da Comissão Suíça para UNESCO, saúda a inclusão da criação de cavalos da raça Franches-Montagnes, mas pensa que a ovelha de nariz-preto do Valais mereceria ter sido incluída também.
Algumas das escolhas surpreenderam.
“Quando a lista inicial foi apresentada, houve várias questões críticas como ‘Por que você incluiu coisas modernas como o encontro de motociclistas em Hauenstein?’”, conta Vitali. “Mas o que queremos é uma lista das tradições vivas e não importa se elas são antigas ou não, se elas são parte de uma cultura popular estabelecida ou uma contracultura generalizada.”
O encontro de motociclistas, organizado em um restaurante no cantão de Solothurn todas as semanas de março a outubro, atrai entusiastas de motocicletas de todas as partes da Suíça desde 1968.
O diretor da Secretaria Federal de Cultura, Jean-Frédéric Jauslin, nativo do cantão de Neuchâtel, ficou muito feliz de ter encontrado dentre os itens incluídos duas preferências da sua infância: a patinação no gelo no rio Doubs e o “torrée”, um tradicional churrasco local.
Jean-Bernard Münch, presidente da Comissão Suíça para UNESCO, saúda a inclusão da criação de cavalos da raça Franches-Montagnes, mas pensa que a ovelha de nariz-preto do Valais mereceria ter sido incluída também.
Algumas das escolhas surpreenderam.
“Quando a lista inicial foi apresentada, houve várias questões críticas como ‘Por que você incluiu coisas modernas como o encontro de motociclistas em Hauenstein?’”, conta Vitali. “Mas o que queremos é uma lista das tradições vivas e não importa se elas são antigas ou não, se elas são parte de uma cultura popular estabelecida ou uma contracultura generalizada.”
O encontro de motociclistas, organizado em um restaurante no cantão de Solothurn todas as semanas de março a outubro, atrai entusiastas de motocicletas de todas as partes da Suíça desde 1968.
Coordenação
Dado o sistema federativo da Suíça, onde tanto poder é transferido aos cantões, uma coisa não é surpreendente sobre essas listas, por vezes surpreendentes: é que nelas deve haver uma grande variedade, especialmente de abordagens.
Marc-Antoine Camp, da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes Lucerna, é responsável pelos subprojetos cantonal e regional. Para ele o trabalho foi um grande desafio.
“Alguns queriam uma abordagem ascendente, baseado principalmente na opinião dos praticantes. Outros davam mais importância à opinião dos especialistas. O compromisso foi que tentamos combinar os dois em todos os casos”, explicou.
“Mas não podíamos contar a ninguém o que fazer. O projeto foi baseado no fato de que os cantões são responsáveis pelo conteúdo.”
Não é por nada que a procura do consenso e a democracia direta estão na lista, pontos que se aplicam a toda Suíça.
Marc-Antoine Camp, da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes Lucerna, é responsável pelos subprojetos cantonal e regional. Para ele o trabalho foi um grande desafio.
“Alguns queriam uma abordagem ascendente, baseado principalmente na opinião dos praticantes. Outros davam mais importância à opinião dos especialistas. O compromisso foi que tentamos combinar os dois em todos os casos”, explicou.
“Mas não podíamos contar a ninguém o que fazer. O projeto foi baseado no fato de que os cantões são responsáveis pelo conteúdo.”
Não é por nada que a procura do consenso e a democracia direta estão na lista, pontos que se aplicam a toda Suíça.
Julia Slater, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele
Adaptação: Alexander Thoele
Acesso em 26/09/12.
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